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Mensagem do Graal

Em cada povo, em cada ser humano, tem de existir, primeiro, a base para a receção dos elevados reconhecimentos de Deus, que se encontram na doutrina de Cristo

Mensagem do Graal

Em cada povo, em cada ser humano, tem de existir, primeiro, a base para a receção dos elevados reconhecimentos de Deus, que se encontram na doutrina de Cristo

As regiões da Luz e o Paraíso

Novembro 02, 2015

Luz irradiante! Limpidez ofuscante! Bem-aventurada leveza! Tudo isso diz tanto por si só, que é quase desnecessário mencionar detalhes ainda. Quanto menos o corpo de matéria fina, isto é, o manto do espírito humano no Além se encontrar onerado com qualquer pendor para as coisas inferiores, com qualquer cobiça para as coisas de matéria grosseira e prazeres, tanto menos se sentirá atraído a isso, tanto menos denso e assim também tanto menos pesado se tornará seu corpo de matéria fina, o qual se forma de acordo com sua vontade, e tanto mais depressa será elevado, devido a sua leveza, para as regiões mais luminosas, correspondentes à menor densidade de seu corpo de matéria fina.

Quanto menos denso e portanto menos concentrado e mais fino ficar esse corpo de matéria fina, devido ao seu estado interior purificado diante dos desejos inferiores, tanto mais claro e mais luminoso parecerá, porque então o núcleo do espirito-enteal na alma humana, por sua natureza já irradiante, transluzirá cada vez mais de dentro para fora do corpo de matéria fina que se torna menos denso, ao passo que nas regiões inferiores esse núcleo radiante acaba ficando encoberto e obscurecido pela maior densidade e peso do corpo de matéria fina.

Também nas regiões da Luz cada alma humana encontrará a espécie igual, isto é, de ideias análogas, de acordo com a estruturação do próprio corpo de matéria fina. Uma vez que apenas o realmente nobre, o que tiver boa vontade, é capaz de se esforçar para cima, livre de cobiças inferiores, assim a alma humana encontrará como a sua espécie igual também apenas o que é nobre. É outrossim fácil de compreender que quem se encontra em tais regiões não tem de sofrer nenhum tormento, mas usufruir tão só a bênção, consentânea com a nobreza que irradia, sentindo-se portanto bem-aventurado com isso e, por sua vez, ele próprio, também desperta alegria nos outros, co vivenciando-a intuitivamente em face da sua própria atuação. Pode dizer que caminha nos páramos dos bem-aventurados, isto é, dos que bem-aventurados se sentem.

Estimulado com isso, sua alegria pelas coisas puras e elevadas tornar-se-á cada vez mais intensa e o elevará cada vez mais alto. Seu corpo de matéria fina será perpassado por esse sentimento intuitivo, tornar-se-á cada vez mais fino e menos denso, de modo que o fulgor do núcleo espírito-enteal irrompe cada vez mais irradiante e, por fim, as últimas partículas desse corpo de matéria fina também se desfazem como que consumidas pelas chamas, com o que então o espírito humano perfeito, consciente e personalizado, está apto a transpor, em sua espécie totalmente espírito-enteal, os limites do espírito-enteal. E só com isso é que entrará no Reino eterno de Deus-Pai, no Paraíso imperecível.

Como num quadro um pintor não pode reproduzir os tormentos da vida real nas regiões das trevas, tampouco consegue descrever o encantamento reinante na vida das regiões da Luz, mesmo que essas regiões pertençam ainda à perecível matéria fina e os limites para o reino eterno de Deus-Pai ainda não tenham sido transpostos.

Cada descrição e cada tentativa de reproduzir a vida em imagens, significaria infalivelmente uma diminuição, que teria que trazer à alma humana, por isso, somente danos em vez de proveitos.

 

Abdruschin

                        

Dissertação 37 “As regiões da Luz e o Paraíso” da obra “Na Luz da Verdade - Mensagem do Graal”, volume II

Fenómeno universal

Novembro 02, 2015

Não há perigo maior para uma coisa do que deixar uma lacuna, cuja necessidade de preenchimento muitas vezes se sente de modo intuitivo. Nada adianta querer passar por cima disso, porque tal lacuna impede cada progresso, e um dia deixará ruir uma construção que sobre isso for erigida, mesmo que seja executada com a maior habilidade e com material deveras bom.

Assim se apresentam hoje as diversas comunidades religiosas cristãs. Com tenaz energia fecham os olhos e ouvidos ante muitos trechos de suas doutrinas que deixam perceber uma falta de lógica. Com palavras ocas procuram passar por cima disso, em lugar de realmente se ocuparem com isso de modo sério.

Intuitivamente sentem, sim, o perigo de que as pontes, provisoriamente estendidas sobre tais abismos, mediante uma doutrina de fé cega, poderão um dia não mais ser suficientes, temendo o momento em que essa construção frágil se tornará reconhecível pela elucidação. Sabem igualmente que então ninguém mais será induzido a tomar caminho tão falso, com o que, evidentemente, a sólida construção progressiva que então novamente continua e o caminho deverão igualmente ficar vazios. E sabem, do mesmo modo, que uma única rajada de verdade refrescante afastará tais configurações artificiais.

Contudo, na falta de algo melhor, procuram, não obstante todos os perigos, segurar-se no pranchão oscilante. Estão até mesmo decididos, antes de mais nada, a defendê-lo por todos os meios e a eliminar quem quer que ouse oferecer uma passagem mais sólida pela própria Verdade. Tentariam repetir sem hesitar o mesmo processo que se desenrolou há quase dois mil anos passados nesta Terra, que ainda lança sua sombra até os dias de hoje, e o qual, no entanto, eles mesmos transformaram no foco principal de suas doutrinas e de suas crenças, como grande acusação contra a cegueira e a teimosia prejudicial das criaturas humanas.

Foram os representantes de religiões e os eruditos daqueles tempos que, por sua estreiteza dogmática e por sua presunção que demonstra fraqueza, não puderam reconhecer a Verdade nem o Filho de Deus, mantendo-se também fechados diante disso e ainda odiando-o e perseguindo-o, bem como a seus adeptos, levados pelo medo e pela inveja, ao passo que outras pessoas se abriam com mais facilidade ao reconhecimento e sentiam intuitivamente mais depressa a Verdade da Palavra.

Apesar dos atuais representantes das comunidades religiosas cristãs fazerem alarde sobre a vida de sofrimentos do Filho de Deus, não chegaram a aprender nada desse facto, nem proveito algum tiraram disso. Justamente os atuais dirigentes dessas comunidades, fundamentadas nos ensinamentos de Cristo, bem como os dos movimentos mais recentes, também hoje tentariam novamente eliminar cada um que através da própria Verdade pusesse em perigo as passagens inseguras estendidas sobre lacunas ou abismos periclitantes de seus ensinamentos e interpretações. Persegui-los-iam com seu ódio nascido do medo e bem mais ainda oriundo da vaidade, tal qual uma vez já ocorreu.

Faltar-lhes-ia a grandeza de suportar que seu saber não seria suficiente para reconhecer a própria Verdade e preencher as lacunas, afim de, com isso, aplainar o caminho dos seres humanos, para mais fácil compreensão e perfeito entendimento.

E não obstante, para a humanidade só é possível uma ascensão através do pleno reconhecimento, jamais pela crença cega e ignorante!

Uma tal lacuna transmitida por falsas tradições vem a ser o conceito relativo ao “Filho do Homem”. Agarram-se doentiamente a isso, semelhante aos fariseus que não quiseram se abrir à Verdade através do Filho de Deus, colocada à frente de suas tradicionais e rígidas doutrinas.

Cristo se referiu a si apenas como o Filho de Deus. Longe estava de possuir a falta de lógica de se cognominar ao mesmo tempo como Filho do Homem.

Se, devido às próprias dúvidas, se tiver tentado esclarecer com a maior capacidade e habilidade em todas as direções essa contradição patente entre o Filho de Deus e o Filho do Homem, sentida intuitivamente por toda pessoa que reflita sensatamente, então não pode ser afirmado, apesar de todos os esforços, que tenha sido encontrada uma unificação.

A melhor de todas as interpretações sempre tem que mostrar de novo uma natureza dupla, permanecendo uma ao lado da outra, jamais, porém, podiam se apresentar como uma coisa só.

Isso também se encontra inteiramente na natureza da questão. O Filho de Deus não pode se tornar o Filho do Homem apenas por que teve que nascer dum corpo humano para poder caminhar pela Terra.

De cada cristão é sabido que o Filho de Deus veio explicitamente em missão espiritual e que todas as suas palavras se referiam ao reino espiritual, isto é, diziam respeito ao espiritual. Por conseguinte também não se deve de antemão entender de modo diferente a sua repetida indicação ao Filho do Homem! Porque deve haver aqui uma exceção? Espiritualmente, porém, Cristo foi e sempre permaneceu somente o Filho de Deus!

Quando falava do Filho do Homem, por conseguinte, não podia se referir a si mesmo. Há em tudo isso algo muito mais grandioso do que transmitem as atuais interpretações das religiões cristãs. A contradição declarada já devia desde muito ter estimulado meditações mais sérias, se as restrições dogmáticas não obscurecessem tudo. Ao invés disso agarraram-se com toda a força às palavras transmitidas, sem a mais séria análise, absolutamente indispensável em assuntos tão incisivos e colocaram desse modo antolhos, impedindo a visão livre.

[…]

Errada é cada tradição que afirma haver Jesus, o Filho de Deus, se designado como sendo simultaneamente também o Filho do Homem. Tal falta de lógica não se encontra nas leis Divinas, nem pode ser atribuída ao Filho de Deus, como conhecedor e portador dessas leis.

Os discípulos não tinham conhecimento disso, conforme se depreende de suas próprias perguntas. É só deles que surgiu o erro, que até hoje tem perdurado. Supunham que o Filho de Deus se designava si mesmo com a expressão Filho do Homem, e nessa suposição propagaram o erro também à posteridade, a qual, da mesma forma que os discípulos, não se ocupou mais seriamente com a falta de lógica aí inerente, mas simplesmente passou por cima disso, em parte por temor, em parte por comodidade, apesar de que na retificação o Amor universal do Criador ainda sobressai mais nítido e mais poderoso.

Seguindo as pegadas do Filho de Deus, isto é, tomando e prosseguindo sua missão, o Filho do Homem como enviado de Deus-Pai irá de encontro à humanidade, a fim de arrancá-la de volta, pela anunciação da Verdade, do trajeto de até então e, de voluntária decisão, levá-la a uma outra sintonização, que desvie dos focos de destruição que agora a aguardam.

Filho de Deus - Filho do Homem! Que nisso deva haver uma diferença, evidentemente não é tão difícil concluir. Cada uma dessas palavras tem seu sentido nitidamente delimitado e estritamente expresso, que uma mistura e fusão em uma só coisa tem que ser taxada diretamente de preguiça do pensar. Ouvintes e leitores das dissertações certamente terão consciência do desenvolvimento natural que, partindo da Luz primordial, Deus-Pai, se estende para baixo, até o corpo do mundo de matéria grosseira. O Filho de Deus veio do Divino-inenteal, atravessando depressa todos os planos, para se encarnar no mundo de matéria grosseira. Um fenómeno de irradiação. Por isso deve com todo o direito ser chamado o Filho de Deus feito carne. A rapidez com que atravessou o espirito-enteal, donde se origina o espirito humano, não deixou que ele se detivesse lá o suficiente, bem como na subsequente parte da matéria fina da Criação, para que seu núcleo Divino-inenteal pudesse levar consigo fortes invólucros protetores dessas diversas espécies, mas sim estes invólucros, normalmente servindo de couraça, permaneceram ténues.

Isso trouxe a vantagem de que a essência Divina irradiasse mais fácil e mais fortemente, portanto irrompesse, mas também a desvantagem de que nos planos inferiores da Terra, hostis à Luz, pudesse ser tanto mais rapidamente combatida e furiosamente agredida devido ao destaque. O poderoso Divinal, apenas tenuemente coberto no invólucro de matéria grosso-terrenal, teve que ficar estranho entre as criaturas humanas por estar demasiadamente distante.

Expresso figuradamente, poder-se-ia dizer, portanto, que seu núcleo Divino não se achava suficientemente preparado e armado para o terrenal inferior de matéria grosseira, devido à carência de agregação proveniente do espirito-enteal e da matéria fina. O abismo entre o Divinal e o terrenal ficou apenas fracamente transposto.

Uma vez que os seres humanos não deram apreço nem preservaram essa dádiva do Amor Divino, mas sim, devido ao impulso natural de tudo quanto é das trevas, enfrentaram o luminoso Filho de Deus com hostilidades e ódio, assim tinha que vir um segundo emissário no Filho do Homem, mais fortemente armado para o mundo de matéria grosseira.

Também o Filho do Homem é um enviado de Deus, proveniente do Divino-inenteal. Igualmente um processo de irradiações. Antes, porém, de seu envio ao mundo de matéria grosseira, foi inserido no eterno espírito-primordial-enteal, isto é, estreitamente ligado com a essência espiritual, donde promana a semente do espírito humano! Com isso o núcleo Divino-inenteal desse segundo enviado se aproxima bem mais do espírito humano em sua origem, pelo que ganha ele também maior proteção e imediata força contra este.

Somente daí deu-se então o seu envio ao mundo de matéria grosseira, numa época em que ele, em hora determinada, possa entrar no campo de luta, a fim de poder apontar, aos que buscam Deus com sinceridade, pedindo por condução espiritual, o caminho certo ao Reino do Pai, e ao mesmo tempo conceder proteção contra os ataques dos que propendem para baixo e lhes são hostis.

Velai, portanto, a fim de o reconhecerdes, assim que tenha chegado a hora dele, pois ele também vos fará chegar a hora!

Abdruschin

                        

Excerto da Dissertação 38 “Fenómeno Universal” da obra “Na Luz da Verdade - Mensagem do Graal”, volume II

A diferença de origem entre o ser humano e o animal

Novembro 02, 2015

Para bem se esclarecer a diferença de origem entre o ser humano e o animal, faz-se mister uma divisão mais pormenorizada da Criação do que até agora.

As expressões usuais como “alma coletiva” do animal, em contraposição ao “Eu” individual do ser humano, não obstante ser coisa bem acertadamente pensada, não são suficientes. Mas delineia-se aí, mui largamente, apenas o geral e o que se acha mais próximo ao terrenal, porém não se menciona a diferença propriamente.

Necessário se faz aqui conhecer o desenvolvimento da Criação que está explicado na dissertação “Desenvolvimento da Criação”.

Para distinção mais fácil sejam transmitidos os principais planos em escala descendente:

Divino

Divino-inenteal = Deus

Divino-enteal

Espírito-enteal

Espírito-enteal consciente

Espírito-enteal inconsciente

Enteal

Enteal consciente

Enteal inconsciente 

Matéria

Matéria fina

Matéria grosseira

O ser humano tem sua origem espiritual no espírito-enteal inconsciente. O animal, por sua vez, tem sua origem enteal no enteal inconsciente. Entre esses dois planos há uma diferença gigantesca. O núcleo vivificador do ser humano é espírito. O núcleo vivificador do animal, porém, é enteal.

Um espírito se encontra nesse caso acima do enteal; a origem interior do ser humano, por consequência, também é mais alta do que a do animal, ao passo que ambos têm em comum apenas a origem do corpo de matéria grosseira. No entanto, o espírito do ser humano, com o tempo, foi aperfeiçoando mais o seu corpo, de origem meramente animal, do que era possível à essência  do animal.

A doutrina do desenvolvimento natural dos corpos de matéria grosseira, começando dos corpos dos animais mais ínfimos, até o corpo do ser humano, é portanto certa. Mostra sob todos os aspetos o trabalho progressivo e sem lacunas da Vontade criadora na natureza. Um sinal de perfeição.

Cometeu-se nessa doutrina apenas um erro, aliás grave, por não ter ido além da matéria grosseira.

Quando se diz que o corpo humano, isto é, o manto de matéria grosseira do ser humano, descende do corpo do animal, que já existia antes do ser humano, está certo. Esses corpos, contudo, não constituem nem o ser humano nem o animal, mas somente fazem parte por serem necessários na matéria grosseira. Querer se concluir disso, porém, que também a vida interior do ser humano descende do animal é um erro desencaminhador e imperdoável que tem de despertar discrepância.

Devido a essa discrepância surge também em tantas pessoas o salutar sentimento intuitivo contra semelhante aceção errónea. Por um lado se sentem atraídas pela veracidade da aceção na parte referente aos corpos, por outro lado, porém, repelidas por causa da grosseira negligência que quer, sem mais nem menos, entretecer conjuntamente a origem interior.

A ciência, de facto, até agora mal era capaz de outra coisa senão afirmar que o ser humano, no desenvolvimento natural, por fim teve que descender do animal e, primeiramente, de um animal semelhante ao macaco, que em sua forma mais se aproximou do corpo humano, porque ela até agora somente conseguiu ocupar-se com aquilo que é matéria. Preponderantemente até apenas com a matéria grosseira, que constitui uma parte bem pequena da Criação. E mesmo dessa só conhece ela as exterioridades mais grosseiras. Na realidade, portanto, pouquíssimo, a bem dizer nada.

Hoje consegue ela utilizar, afinal, elementos de mais-valia, mas ignora-lhe as especificidades, tendo que obrigatoriamente se contentar com algumas palavras estrangeiras que coloca no lugar do saber. Essas palavras designam exclusivamente a classificação provisória de algo existente e já utilizável, mas cuja natureza essencial não se conhece, e muito menos ainda a origem.

O enteal, porém, e muito mais ainda o espiritual, acham-se acima de tudo quanto é material; são, partindo da Terra para cima, a continuação para a origem de tudo quanto existe ou, o que é mais natural, de cima para baixo, o que precedeu o material no desenvolvimento.

Deve-se levar em consideração que todo o espiritual, assim como todo o enteal, necessitam evidentemente e condicionado de modo natural, devido ao desenvolvimento, do manto de um corpo de matéria grosseira, tão logo, em obediência às leis de evolução, penetrem, como fator formador e núcleo vivo, até a matéria grosseira. Cada discórdia desfar-se-á logo, quando finalmente ou se progride mais para cima em todo o pesquisar, isto é, para cima de tudo o que é material, ou se prossegue no caminho natural de desenvolvimento de cima para baixo.

 É chegado o tempo em que se deve dar o passo para tanto. Contudo, a maior cautela é requerida aí, a fim de que o saber espiritual, que traz de modo evidente a lógica em si, não seja despercebidamente rebaixado em ignorante fantasia. Deve-se atentar que ao enteal e ao espiritual também somente se pode enfrentar com espirito claro, livre, não como no material, com balanças, bisturis e tubos de ensaio.

Tampouco com espirito acanhado ou preconceitos, conforme tantas vezes se intenciona. Isso se proíbe por si mesmo intransponivelmente, segundo as leis vigentes da Criação. Nisso a pequena criatura humana, mesmo com a maior arrogância, nada poderá torcer da férrea Vontade de seu Criador em Sua perfeição.

 A diferença essencial entre o ser humano e o animal se encontra, portanto, exclusivamente em seu íntimo. O animal, depois de despir o corpo de matéria grosseira, só pode regressar ao enteal, ao passo que o ser humano volta ao espiritual, que se acha bem mais acima.

O ser humano consegue, em certo sentido, descer muitas vezes ao nível do animal; no entanto, sempre terá que permanecer ser humano, já que lhe é impossível esquivar-se à responsabilidade, que tem o germe em sua origem espiritual. Todavia, o animal, com sua origem enteal, não pode nunca pode se elevar à condição de ser humano. A diferença entre os corpos existe, pois, apenas na forma e no desenvolvimento mais nobre da criatura humana, levado a efeito pelo espírito, depois que penetrou no corpo de matéria grosseira. (*)

Abdruschin

 

(*) Dissertação “A Criação do Ser Humano”

 

Dissertação 39 “A diferença de origem entre o ser humano e o animal” da obra “Na Luz da Verdade - Mensagem do Graal”, volume II

A separação entre a humanidade e a ciência

Novembro 02, 2015

Essa separação não precisava existir, porque a humanidade inteira tem pleno direito à ciência. Pois esta procura apenas tornar mais compreensível a dádiva de Deus, a Criação. A atividade propriamente de cada ramo da ciência se encontra na tentativa de perscrutar mais de perto as leis do Criador, a fim de que essas, pelo seu conhecimento mais apurado, possam ser utilizadas mais proveitosamente para o bem da humanidade.

Tudo isso não é nada mais do que um submeter-se á Vontade Divina.

Visto que a Criação e as leis da natureza ou de Deus, que a mantém, são tão nítidas e simples em sua perfeição, devia resultar como consequência lógica uma explicação singela e simples por parte de quem realmente as tenha reconhecido.

Estabelece-se aqui, porém, uma diferença sensível que por sua natureza malsã abre um abismo cada vez mais amplo entre a humanidade e os que se cognominam discípulos da ciência, isto é, discípulos do saber ou da Verdade.

Estes não se expressam de modo tão simples e natural como corresponderia à Verdade, portanto ao verdadeiro saber, sim, como a Verdade, acima de tudo, requer como sequência natural.

Tem isso duas causas ou, mais precisamente, três. Esperam uma posição de destaque pelos esforços especiais, segundo sua opinião, nos estudos. Não querem se convencer de que tais estudos constituem também apenas um empréstimo tomado à Criação formada, conforme semelhantemente faz um simples camponês pela serena observação da natureza, para ele necessária, ou outras pessoas em seus trabalhos práticos o devam fazer.

Além disso, um discípulo da ciência sempre terá de se expressar sem clareza, pela natureza da coisa, enquanto não se aproximar direito da Verdade em seu saber. Só quando tiver compreendido realmente a própria Verdade, tornar-se-á, também por causa da natureza da coisa, necessariamente simples e natural em suas descrições.

Não é, pois, segredo algum que exatamente os que nada sabem, em suas fases transitórias para o saber, gostam de falar mais do que os próprios entendidos e terão aí de se servir sempre da falta de clareza, porque de outra maneira não são capazes, se ainda não tiverem diante de si a Verdade, isto é, o real saber.

Em terceiro lugar existe realmente o perigo da maioria das criaturas humanas dar pouco apreço à ciência, se esta quiser mostrar-se com o manto natural da Verdade. Os seres humanos a achariam “natural demais” para poder dar-lhe muito valor.

Não raciocinam que exatamente isso é o único certo, proporcionado inclusive o padrão para tudo quanto é legítimo e verdadeiro. A garantia da Verdade reside, tão-só, na sua evidência natural.

Mas para tanto os seres humanos não serão tão facilmente convertidos, pois também não quiseram reconhecer em Jesus o Filho de Deus, porque ele lhes veio “demasiadamente simples”.

Os discípulos da ciência desde sempre estiveram muito bem a par desse perigo. Por isso se fecharam cada vez mais, por sagacidade, à simplicidade natural da Verdade. A fim de fazer valer a si mesmos e a sua ciência, criaram, em suas reflexões sofismáticas, obstáculos cada vez mais difíceis.

O cientista, destacando-se da massa, desprezava finalmente expressar-se de modo simples e compreensível a todos. Muitas vezes apenas pelo motivo, por ele próprio mal conhecido, de que certamente não lhe restaria muito de destaque, se não formasse um modo de expressão que, necessariamente, só em longos anos de estudos poderia ser aprendido de modo especial.

O facto de não se tornar compreensível a todos, criou-lhe, com o tempo, uma primazia artificial, que fora conservada a qualquer preço pelos alunos e sucessores, visto que do contrário, para muitos, os estudos de anos e os sacrifícios monetários a isso ligado, realmente teriam sido em vão.

Chegou-se assim hoje a tal ponto que nem é mais possível a muitos cientistas se expressarem perante pessoas simples de modo claro e compreensível, isto é, de maneira simples. Tal empenho, agora, exigiria decerto o estudo mais difícil e tomaria mais tempo do que uma geração inteira. Antes de tudo, para muitos resultaria desagradavelmente, pois então apenas sobressairiam ainda aquelas pessoas que tivessem algo a dar à humanidade com real capacidade, estando com isso estariam dispostas a servi-la.

Atualmente, para a generalidade, é característica marcante do mundo dos cientistas a mistificação por incompreensibilidade como semelhantemente já foi hábito em assuntos eclesiásticos, onde os servidores de Deus terrenalmente escolhidos como guias de guias e condutores só falavam em latim a todos quantos buscavam devoção e elevação, o que estes não entendiam e, portanto, também não podiam abranger nem assimilar, somente com o que conseguiriam obter algum lucro. Os servidores de Deus poderiam ter falado igualmente em siamês na ocasião, com o mesmo insucesso.

O verdadeiro saber não deve precisar tornar-se incompreensível, pois encerra em si ao mesmo tempo a faculdade, a necessidade, sim, de se expressar em palavras singelas.

A Verdade é, sem exceção, para todas as criaturas humanas, pois estas se originam dela, porque a Verdade é viva no espírito-enteal, o ponto de partida do espírito humano. Daí se infere que a Verdade pode ser compreendida também em sua singeleza natural por todas as criaturas humanas. Tão logo, porém, ao ser transmitida se torne complicada e incompreensível, não permanece mais pura e verdadeira, ou então as descrições se perdem em coisas secundárias que não têm aquele sentido como o núcleo.

Esse núcleo, o autêntico saber, tem que ser compreensível a todos. Algo artificialmente arquitetado, por sua distância da naturalidade, pode conter em si apenas pouca sabedoria. Quem não é capaz de transmitir o verdadeiro saber de modo simples e natural, não o compreendeu, ou então procura encobrir algo, ou se apresenta como um boneco enfeitado e sem vida.

Quem na lógica ainda deixar lacunas e exigir crença cega, reduz a um ídolo defeituoso o Deus perfeito e prova que não se acha no caminho certo, não podendo portanto guiar com segurança. Seja isso uma advertência a cada perscrutador sincero!

Abdruschin

                        

Dissertação 40 “A separação entre a humanidade e a ciência” da obra “Na Luz da Verdade - Mensagem do Graal”, volume II

Espírito

Novembro 02, 2015

Usa-se com tanta frequência a expressão “espírito”, sem que aquele que sobre isso fale esteja consciente do que realmente seja espírito. Um denomina espírito, sem mais nem menos, a vida interior do ser humano, outro confunde alma e espírito; muitas vezes se fala também em seres humanos dotados de espírito, pensando aí em nada mais do que em simples trabalho cerebral. Fala-se de relâmpagos do espírito e de muita coisa mais. Mas ninguém se põe uma vez a esclarecer direito o que é espírito.

O mais elevado que até agora se compreende jaz na expressão: “Deus é espírito”! Disso, pois, tudo se deduz. Tentou-se através dessa firmação, poder compreender também o próprio Deus, e nisso encontrar um esclarecimento sobre Ele.

Justamente isso, porém, teve que desviar novamente a realidade, acarretando assim também erros, pois é errado dizer simplesmente: Deus é espírito.

Deus é Divino e não espiritual! Nisto já consiste a explicação. Não se deve nunca designar espírito o que é Divino. Somente o espiritual é espírito! Esse erro até agora existente em tal conceção é explicável pelo facto de o ser humano provir do espiritual, não conseguindo por isso raciocinar além do espiritual, sendo consequentemente todo o espiritual o mais elevado para ele.

É, pois, admissível que ele queira ver o mais límpido e o mais perfeito disso como origem de toda a Criação, portanto, como Deus. Assim pode-se supor que essa conceituação errada não se originou apenas da necessidade de imaginar seu Deus segundo a própria espécie, conquanto perfeito em todos os sentidos, a fim de se sentir mais intimamente ligado com Ele, mas a razão se encontra principalmente na incapacidade de compreender a verdadeira excelsitude de Deus.

Deus é Divino, Sua Vontade é espírito. E dessa Vontade viva originou-se o ambiente espiritual que Lhe está mais próximo, o Paraíso com seus habitantes. Desse Paraíso, porém, adveio a criatura humana como semente espiritual, a fim de prosseguir seu percurso pela Criação ulterior. O ser humano é, portanto, portador do espírito no conjunto da Criação material. Por esse motivo se encontra em suas ações atado à pura Vontade primordial de Deus, devendo assumir toda a responsabilidade para tanto, se deixar que esta fique impuramente coberta de todo por influências externas da matéria e, sob certas circunstâncias, soterrada temporariamente, de modo total.

É o tesouro ou o talento que em sua mão devia dar juros e mais juros. Da falsa aceção de que o próprio Deus seja espírito, portanto, de idêntica espécie como a da origem do próprio ser humano, decorre nitidamente que o ser humano jamais pôde fazer uma ideia exata da Divindade. Ele deve não apenas imaginar nisso o mais perfeito de si próprio, mas terá que ir muito além, até aquela espécie que sempre lhe permanecerá incompreensível, porque para a apreensão dela jamais estará apto por sua própria espécie espiritual.

O espírito é, por conseguinte, a Vontade de Deus, o elixir de vida de toda a Criação que dele precisa estar impregnada a fim de se manter. O ser humano é o portador parcial desse espírito, que deve cooperar, ao tornar-se autoconsciente, para o soerguimento e o desenvolvimento progressivo de toda a Criação. Para isso é necessário, contudo, que aprenda a se servir direito das energias da natureza e as utilize para progresso em conjunto.

O que aqui é dito deve constituir apenas uma indicação provisória, à qual mais tarde se seguirão ainda dissertações exatas, onde as diferentes espécies de espírito serão descritas com nítidas delimitações.

Abdruschin

                        

Dissertação 41 “Espírito” da obra “Na Luz da Verdade - Mensagem do Graal”, volume II

Desenvolvimento da Criação

Novembro 02, 2015

Já indiquei uma vez que as histórias escritas da Criação não devem ser tomadas em sentido terreno. Inclusive a história da criação na Bíblia não se refere à Terra. A criação da Terra foi exclusivamente uma consequência natural que adveio da primeira Criação em seu desenvolvimento progressivo.

É quase incompreensível que os pesquisadores das escrituras pudessem ter dado um salto tão grande, tão ilógico e lacunoso, com a suposição de que Deus, em Sua perfeição, tivesse criado imediatamente a Terra de matéria grosseira, sem transição.

Nem é preciso alterar-se a “palavra” das escrituras para nos abeirarmos da verdade dos fenómenos. Pelo contrário, a palavra da história da Criação reproduz com muito maior clareza essa verdade do que todas as demais suposições lacunosas e erradas. Apenas as interpretações erróneas é que provocaram a incapacidade de compreensão de tantas criaturas humanas.

Estas, mui acertadamente, sentem de modo intuitivo o erro que se comete, querendo colocar, incondicionalmente, na Terra de matéria grosseira, tão afastada do Divinal, o Paraíso mencionado na Bíblia. Não é afinal tão desconhecido assim que a Bíblia é antes de tudo um livro espiritual. Dá esclarecimentos sobre fenómenos espirituais, onde seres humanos somente são mencionados quando em conexão imediata para a elucidação dessas coisas espirituais e para ilustrá-las.

Finalmente, também se torna compreensível ao raciocínio humano, por ser natural, se a descrição da Criação feita na Bíblia, não se referir à Terra tão afastada do Criador.

É improvável que alguém tenha a ousadia de negar o facto de que essa Criação direta de Deus, designada como primeira, também só possa ser procurada em Sua proximidade mediata, já que saiu como primeira do próprio Criador e por isso tem que estar em conexão mais íntima com Ele. Ninguém, pensando serena e claramente, esperará que essa primeira e verdadeira Criação se tenha processado exatamente aqui na Terra, que mais se acha afastada do Divinal, e que só se formou no curso progressivo da evolução.

Não podia tratar-se, portanto, de um Paraíso na Terra. O que Deus criou, conforme está categoricamente expresso na história da Criação, permaneceu explicita e diretamente ligado a Ele, devendo achar-se somente em Seu ambiente mais próximo. Da mesma forma facilmente explicável e natural é a conclusão de que tudo quanto foi criado ou emanado nessa contiguidade tão chegada ao Criador, conserve também a maior semelhança com a Sua perfeição.

Mas imaginar isso na Terra de matéria grosseira, há-de criar duvidadores. A ideia duma expulsão do Paraíso terrestre, devendo porém tais expulsos permanecerem sobre essa mesma Terra, demonstra tanto de doentio, é tão visível e grosseiramente transladada para o terrenal, que quase pode ser chamada de grotesca. Uma imagem morta que traz o cunho dum dogma forçadamente introduzido, com o que nenhum ser humano sensato sabe o que fazer.

Quanto menos perfeito, tanto mais longinquamente afastado da perfeição. Também os seres espirituais criados da perfeição não podem ser os seres humanos da Terra, mas devem se achar na maior proximidade dessa perfeição e constituir, por isso, os modelos mais ideais para os seres humanos. São os espíritos eternos, que nunca vêm à materialidade, e que portanto não se tornam seres humanos terrenos. Figuras ideais irradiantes que atraem qual ímãs, atuando também de maneira a fortalecer todas as faculdades dos germes espirituais humanos, que mais tarde se tornarão espíritos conscientes.

O Paraíso, que na Bíblia é chamado como tal, não deve por conseguinte ser confundido com a Terra.

Para esclarecimento mais detalhado, torna-se necessário mais uma vez apresentar um quadro completo de tudo o que existe, a fim de tornar mais fácil à pessoa perscrutadora achar o caminho para o Reino eterno de Deus, o Paraíso, do qual descende em seus primórdios espirituais.

O ser humano imagina o Divinal como o que há de superior e altíssimo. O próprio Deus, como ponto de partida de todo o existente, como fonte primordial de toda a vida, é Inenteal em Sua perfeição absoluta. Após o próprio Deus, em Sua inentealidade intrínseca, segue-se o círculo do Divino-Enteal. Deste originam-se os primeiros seres que tomaram forma. A esses pertencem em primeira linha a Rainha primordial e os arcanjos, e por último pequeno número de anciãos. Estes últimos são de grande importância para o desenvolvimento progressivo do espírito-enteal, assim como mais adiante os seres do enteal-consciente têm grande importância para o desenvolvimento da matéria. Lúcifer foi enviado do Divino-enteal, a fim de ser um apoio direto à Criação em seu desenvolvimento autónomo progressivo.

O Filho de Deus veio, porém, do Divino-inenteal, como uma parte que depois de sua missão de auxílio tem de retornar ao Divino-inenteal, a fim de reunificar-se com o Pai. O Filho do Homem descende igualmente do Divino-inenteal. Devido à ligação com o espírito-enteal-consciente, sua apartação cumpriu-se como necessidade de permanecer separado e também ao mesmo tempo estar imediatamente ligado com o Divino-inenteal, a fim de que possa ficar eternamente como mediador entre Deus e Sua obra.

Depois que Lúcifer, procedente do Divino-enteal, falhou em sua atuação, teve que ser enviado em seu lugar um mais forte, que o algemasse e auxiliasse a Criação. Por isso descende o Filho do Homem, a isso destinado, do Divino-inenteal.

Ao Divino-enteal se liga, pois, a Criação primordial, o eterno Reino de Deus. Está em primeiro lugar como o mais próximo, o espírito-enteal consciente, que consiste de seres espirituais criados, eternos, também chamados espíritos. Estes são as figuras ideais perfeitas para tudo aquilo a que os espíritos humanos podem e devem almejar em seu mais alto desenvolvimento. Eles atraem magneticamente para cima os que se esforçam por ascender. Essa ligação automática se faz sentir, aos que procuram e se esforçam em ascender, como uma saudade muitas vezes inexplicável, que lhes outorga o impulso para procurar e se esforçar em ascender.

São os espíritos que jamais nasceram na matéria e que o próprio Deus, fonte primordial de todo o ser e de toda a vida, criou como os primeiros espíritos primordiais, que, portanto, também se aproximam mais de Sua própria perfeição. São eles, igualmente, os que são segundo à Sua imagem!

Não se deve omitir que a história da Criação está expressamente dito: segundo Sua imagem. Essa indicação também não está aqui sem significação, pois só segundo Sua imagem podem eles ser, não segundo Ele próprio; por conseguinte, apenas como Ele se mostra, porque o próprio puro Divinal é, como único, inenteal.

Para se mostrar, conforme já foi mencionado, Deus tem que Se cobrir antes com o Divino-enteal. Mas mesmo assim não poderá ser visto pelos espírito-enteais, mas apenas pelos Divino-enteais, e isso também apenas em parte reduzida, pois tudo quanto é puro Divinal terá que ofuscar, em sua pureza perfeita e claridade, o que não é Divinal. Mesmo os Divino-enteais não conseguem contemplar o semblante de Deus! A diferença entre o Divino-inenteal e o Divino-enteal ainda é demasiadamente grande para isso.

Nesse paraíso dos espírito-enteais conscientes vive simultaneamente o espírito-enteal inconsciente. Encerra as mesmas bases de que se compõe o espírito-enteal consciente, isto é, os germes para isso. Nesses germes, porém, reside vida, e em toda a Criação a vida impulsiona para o desenvolvimento, segundo a Vontade Divina. Para o desenvolvimento a fim de se tornar consciente. Este é um processo todo natural e sadio.

Tornar-se consciente, porém, só pode emergir da condição inconsciente através de experiências, e esse impulso para o desenvolvimento progressivo através da experiência acaba expelindo automaticamente tais germes em amadurecimento ou em fase de impulsão, do espírito-enteal inconsciente, ou, como se queira dizer, para fora dos limites do espírito-enteal. Uma vez que esse expelir ou impelir dum germe não pode se dar para cima, tem ele que tomar o caminho para baixo, que lhe é livre.

E essa é a expulsão natural do Paraíso, do espírito-enteal, necessária ao germe espiritual que se esforça por se tornar consciente!

De modo figurado é isso mui acertadamente transmitido, quando é dito: “Com o suor de teu rosto deverás comer teu pão.” Quer dizer, na azáfama das experiências com a necessidade que aí surge de defender-se e de lutar contra as influências oriundas do ambiente inferior, no qual penetra como estranho.

Esse expelimento, impelimento ou expulsão do Paraíso não é castigo algum, mas é uma necessidade absoluta, natural e automática, ao se manifestar uma determinada maturação em cada germe espiritual pelo anseio para o desenvolvimento da conscientização. É o nascimento proveniente do espírito-enteal inconsciente para a entealidade, e depois, para o material com a finalidade de desenvolvimento. Por conseguinte, um progresso, não acaso um retrocesso!

[…]

Outra sequência da evolução foi o surgimento da matéria. Esta se subdivide em matéria fina, que compreende muitas secções, e em matéria grosseira, que, começando com a mais ténue névoa, torna-se visível aos olhos terrenos!

Mas num paraíso na Terra, ramificação extrema da matéria grosseira, não se pode pensar. Deve um dia vir na Terra um reflexo do verdadeiro Paraíso, sob a mão do Filho do Homem, no princípio do Reino do Milénio, como também surgirá com isso, ao mesmo tempo, uma cópia terrena do Supremo Templo do Graal, cujo modelo se encontra na parte mais excelsa da Criação, como o único verdadeiro Templo de Deus existente até aqui.

Abdruschin

                        

Excerto da Dissertação 42 “Desenvolvimento da Criação” da obra “Na Luz da Verdade - Mensagem do Graal”, volume II

Eu sou o Senhor, teu Deus!

Novembro 02, 2015

Onde estão os seres humanos que realmente ponham em prática este mais alto de todos os mandamentos? Onde está o sacerdote que o ensina de modo puro e verdadeiro?

“Eu sou o Senhor, teu Deus, não terás outros deuses a Meu lado!” Essas palavras são dadas de modo tão claro, tão perentório, que não deveria ser possível absolutamente um desvio! Cristo também apontou isso reiteradamente, com grande nitidez e severidade.

Tanto mais lastimável é, pois, que milhões de pessoas passem por isso desatentamente, devotando-se a cultos que se acham em direta oposição a esse mais alto de todos os mandamentos. O pior de tudo é que desprezam esse mandamento de seu Deus e Senhor com crédulo fervor, na ilusão de honrar a Deus e de Lhe ser agradável nessa manifesta violação de Seu mandamento!

Esse grande erro só pode persistir dentro duma crença cega, onde são excluídas quaisquer ponderações, pois crença cega não é mais do que falta de reflexão e preguiça espiritual dessas pessoas, que, tal como preguiçosos e dorminhocos, procuram evitar o mais possível acordar e levantar, pois acarreta obrigações cujo cumprimento temem. Cada esforço lhes parece um horror. É, pois, muito mais cómodo deixar que outros trabalhem e pensem por eles.

Todavia, quem deixa que os outros pensem em seu lugar, dá-lhes poderes sobre si, rebaixa-se a servo, tornando-se assim preso. Deus, no entanto, deu ao ser humano uma força de livre resolução, deu-lhe a faculdade de raciocinar, de sentir intuitivamente e, para tanto, terá que receber, evidentemente, uma prestação de contas de tudo aquilo que essa faculdade de livre resolução acarreta! Com isso Ele queria criaturas humanas livres, não servos!

É triste quando um ser humano, por preguiça, se torna terrenalmente escravo, mas terríveis são as consequências quando ele se desvaloriza de tal maneira espiritualmente, que se torna um adepto bronco de doutrinas que contrariam os mandamentos explícitos de Deus. Nada adianta aos seres humanos procurarem abafar os escrúpulos que aqui e acolá despertam, com a desculpa de que por fim aquelas pessoas que introduziram desvios nas doutrinas terão de arcar com a maior responsabilidade. Isso em si já está certo, mas, além disso, cada um por si ainda é especialmente responsável por tudo aquilo que pensa e faz.

Integralmente, nada disso lhe pode ser perdoado.

Aquele que não põe em prática, em toda a extensão possível, as faculdades do sentimento intuitivo e do raciocinar a ele outorgadas, torna-se culpado!

Não é pecado, mas dever, que cada um, ao despertar da maturidade, também comece a refletir sobre aquilo que até aí lhe foi ensinado, mediante o que assume plena responsabilidade de si mesmo. Não podendo colocar seus sentimentos intuitivos de acordo com alguma coisa disso, então também não deve aceita-lo cegamente como certo. Apenas se prejudica a si próprio, como em uma compra ml feita. O que não lhe é possível manter por convicção, deve deixar, pois do contrário seu pensar e seu atuar tornam-se hipocrisia.

Aquele que omite isto ou aquilo de realmente bom, porque não o pode compreender, de longe ainda não é tão abjeto como aqueles que sem convicção se agregam a um culto que não compreendem de modo total. Todas as ações e pensamentos provenientes de tal incompreensão são vazios, e de tal vacuidade não pode resultar, automaticamente, qualquer efeito recíproco bom, porque na vacuidade não se encontra qualquer base viva para algo de bom. Assim tornar-se-á uma hipocrisia, que equivale à blasfémia, porque com isso se procura enganar a Deus com algo que não existe. Faltam sentimentos intuitivos vivos! Isso torna aquele que age dessa maneira um desprezível, um expulso!

Os milhões de seres humanos, pois, que impensadamente veneram coisas que contrariam manifestamente os mandamentos Divinos, encontram-se, não obstante qualquer eventual fervor, incondicionalmente manietados e totalmente excluídos de todo de uma escalada espiritual.

Somente a convicção livre é viva, e só ela pode, por conseguinte, criar algo vivo! Uma tal convicção, porém, só pode despertar mediante análises rigorosas e profundos sentimentos intuitivos. Onde ainda houver a menor incompreensão, sem se falar em dúvidas, nunca pode surgir convicção.

Somente o compreender pleno e sem lacunas equivale à convicção, a qual unicamente possui valor espiritual!

[…]

Bênçãos só poderão auferir quem se colocar por completo dentro da Vontade de Deus, que mantém a Criação em Suas leis da natureza. Mas isso só consegue quem as conhece deveras.

Devem ser condenadas como mortas, e portanto prejudiciais, as doutrinas que exigem crença cega; somente aquelas que, como através de Cristo, conclamam para o tornar-se vivo, isto é, para o raciocinar e analisar, a fim de que possa surgir convicção resultante de verdadeira compreensão, proporcionam libertação e salvação.

Somente a mais condenável irreflexão pode supor que a finalidade da existência do ser humano consista, principalmente, na correria com vistas à obtenção das necessidades e dos prazeres corpóreos, para, finalmente, se deixar libertar com toda a calma, mediante algum gesto externo e bonitas palavras, de toda a culpa e das consequências de suas negligências indolentes na vida terrena. O percurso pela vida terrena e o passo para o Além por ocasião da morte não são como uma viagem quotidiana, para a qual se compra a passagem apenas no último momento.

Com tal crença o ser humano duplica sua culpa! Pois qualquer dúvida na Justiça incorruptível de Deus perfeito, é blasfémia! A crença no arbitrário e fácil perdão dos pecados, no entanto, é um testemunho cabal da dúvida na Justiça incorruptível de Deus e de Suas leis; mais ainda, confirma diretamente a crença na arbitrariedade de Deus, o que equivale à imperfeição e insuficiência.

Pobres crédulos, dignos de lástima!

Ser-lhes-ia melhor permanecer ainda pagãos, pois aí poderiam encontrar sem impedimentos e mais facilmente o caminho que já pensam haver encontrado.

Salvação reside apenas em não reprimir medrosamente os pensamentos que nascem e a dúvida que com isso desperta em tantas coisas, pois aí se manifesta o sadio impulso pela Verdade!

Lutar com a dúvida, porém, é o analisar, ao qual terá que se seguir, indiscutivelmente, a condenação do lastro dogmático. Só mesmo um espirito inteiramente liberto de toda a incompreensão consegue se elevar, radiosamente convicto, às alturas resplandecentes, ao Paraíso!

Abdruschin

                        

Excerto da Dissertação 43 “Eu sou o Senhor, teu Deus!” da obra “Na Luz da Verdade - Mensagem do Graal”, volume II

A imaculada conceção e o nascimento do Filho de Deus

Novembro 02, 2015

A imaculada conceção não deve ser tomada apenas no sentido corpóreo, mas acima de tudo, como tanta coisa na Bíblia, em sentido puramente espiritual. Somente quem reconhece e sente intuitivamente o mundo espiritual como existindo deveras e atuando de modo vivo, consegue encontrar a chave para a compreensão da Bíblia, o que, unicamente, é capaz de tornar viva a Palavra. Para todos os outros permanecerá sempre um livro fechado a sete selos.

Imaculada conceção, no sentido corpóreo, é cada conceção oriunda dum amor puro, em profundo erguer dos olhos para o Criador, onde os instintos sensuais não constituem a base, mas sim permanecem apenas como forças coparticipantes.

Esse fenómeno é na realidade tão raro, que foi justificado o seu destaque especial. A garantia da postergação de instintos sensuais foi dada mediante a anunciação, que por esse motivo é mencionada especialmente, pois do contrário faltaria um elo na cadeia dos fenómenos naturais e da firme colaboração com o mundo espiritual.

A virgem Maria já de antemão provida de todos os dotes necessários para poder cumprir sua alta missão, entrou em tempo certo através da condução espiritual em contato com pessoas profundamente compenetradas das revelações e profecias referentes ao Messias em vias de chegar. Foi esse o primeiro preparativo na Terra que impulsionou Maria no rumo de sua verdadeira finalidade, deixando-a a par de tudo aquilo em que ela então deveria representar um papel tão importante, sem que naquela época já se soubesse disso.

A venda dos escolhidos afrouxa-se sempre de modo cauteloso e pouco a pouco, para não precipitar o desenvolvimento indispensável, pois todos os estágios intermediários devem ser vivenciados seriamente, de modo a possibilitar finalmente uma realização. Conhecimento demasiado prematuro da própria missão deixaria lacunas no desenvolvimento, dificultando mais tarde a realização.

Olhando constantemente para a meta final, surge o perigo de um avançar demasiadamente rápido, pelo que muita coisa passa despercebida ou é apreendida apenas superficialmente, o que, para o preenchimento da própria destinação, tem de ser vivenciado seriamente de modo absoluto. Mas o ser humano só pode vivenciar seriamente aquilo que de cada vez considerar como a verdadeira missão de sua vida. Assim também com Maria.

Quando então chegou o dia em que se encontrava interna e externamente preparada, ela tornou-se, num momento de completo repouso e equilíbrio psíquico, clarividente e clariaudiente, isto é, seu íntimo se abriu ao mundo de outra matéria, experimentando vivencialmente a anunciação descrita na Bíblia. Caiu-lhe assim a venda, e ela entrou conscientemente na sua missão.

A anunciação foi para Maria uma vivência espiritual tão poderosa e abaladora, que preencheu por completo, dessa hora em diante, toda sua vida anímica. Daí por diante ficou sintonizada unicamente numa direção, a de poder esperar uma elevada graça Divina. Esse estado de alma era desejado pela Luz através da anunciação, a fim de assim postergar, de antemão e para longe, manifestações de instintos inferiores e preparar o solo onde um puro recetáculo terreno (o corpo infantil) pudesse surgir para a imaculada conceção espiritual. Com essa extraordinariamente forte sintonização anímica de Maria, tornou-se “imaculada” a conceção corpórea, correspondente às leis naturais.

Que Maria já trouxera todos os dotes para a sua missão, portanto que era pré-natalmente destinada para tornar-se a mãe terrena do vindouro portador da Verdade, Jesus, não é difícil de ser compreendido por quem disponha de certa noção do mundo espiritual e de sua respetiva atividade amplamente ramificada que, preparando todos os grandes acontecimentos, passa como que brincando por cima de milénios.

Com esse corpo de criança em formação, que sob tais contingências se desenvolveu de maneira a se tornar um recetáculo puríssimo, foram dadas as condições terrenas para uma “imaculada conceção espiritual”, a encarnação que se realiza no meio da gravidez.

Aí não se trata de uma das almas ou centelhas espirituais, inúmeras vezes aguardando encarnação, as quais querem ou têm de percorrer uma vida terrena para o desenvolvimento, cujo corpo de matéria fina (ou invólucro) é mais ou menos turvo, isto é, maculado, com o que a ligação direta com a Luz fica obscurecida e por momentos completamente cortada.

Veio a ser um processo de irradiação proveniente de Deus, outorgado por amor à humanidade perdida nas trevas, suficientemente forte para não deixar que se interrompesse jamais a ligação direta com a Luz Primordial.

Resultou aí, nesse facto, uma íntima ligação entre a Divindade e a humanidade, assemelhando-se a uma coluna luminosa de força e pureza jamais esgotável, da qual tudo quanto é inferior havia de resvalar. Assim surgiu também a possibilidade para a transmissão sem turvação da Verdade, haurida da Luz, bem como da força para as ações que pareciam milagres.

A narrativa das tentações no deserto mostra como caíram os esforços das correntezas escuras para manchar a pureza do sentimento intuitivo, sem poder causar danos.

Após a imaculada conceção corpórea de Maria, pôde advir com tal vigor a encarnação proveniente da Luz, o que se dá no meio da gestação, que não permitiu qualquer turvação nos estágios intermediários entre a Luz e o corpo materno, resultando assim também “uma imaculada conceção espiritual”.

Portanto, é perfeitamente certo falar-se em imaculada conceção, a qual se deu corporal e espiritualmente, sem que tivesse sido qualquer lei da Criação contornada, alterada ou necessariamente criada para esse caso especial.

O ser humano não deve pensar que haja nisso uma contradição, porque fora prometido que o Salvador haveria de ser gerado por uma virgem.

A contradição advém apenas da interpretação errónea da palavra “virgem” na profecia. Se essa fala de uma virgem, não se refere a um conceito mais restrito, muito menos ainda à opinião de um Estado, mas pode tratar-se tão-só de um amplo conceito da humanidade.

Uma opinião mais restrita teria de verificar que uma gravidez e o parto em si, sem falar na geração, já excluem a virgindade em sentido comum. A profecia, porém, não se refere a tais coisas. Diz-se com isso que Cristo viria a nascer imprescindivelmente como o primeiro filho duma virgem, isto é, duma mulher que ainda não tivesse sido mãe. Nela todos os órgãos necessários ao desenvolvimento do corpo humano estão virgens, isto é, ainda não funcionaram nesse sentido, desse corpo ainda não saiu nenhum filho. Com relação a cada primeiro filho, os órgãos no corpo materno têm, pois, que ser ainda virgens. Somente isso podia entrar em consideração em profecia tão ampla, porque cada promessa só se realiza na absoluta lógica das atuantes leis da Criação, sendo também dada com essa previsão inabalável!

A promessa refere-se portanto “ao primeiro filho”, por isso é que foi feita a distinção entre virgem e mãe. Outra diferença não entra em consideração, visto que os conceitos de virgem e de mulher originaram-se apenas das instituições puramente estatais ou sociais do matrimónio, que de modo algum foram consideradas em tal promessa.

Devido à perfeição da Criação, como obra de Deus, o ato da geração é absolutamente necessário, pois a Onisciência do Criador desde os primórdios ordenou tudo de tal maneira, que nada é demais ou supérfluo. Quem nutre tal pensamento está dizendo concomitantemente que a obra do Criador não é perfeita. O mesmo vale quanto aos que afirmam que o nascimento de Cristo ocorreu sem a geração prescrita pelo Criador à humanidade. Tinha que haver ocorrido uma geração normal, mediante uma pessoa de carne e sangue! Inclusive nesse caso.

Cada criatura humana consciente disso de modo certo, louva assim ainda mais o Criador e Senhor, do que aquelas que queiram admitir outras possibilidades. As primeiras dão prova de confiança inabalável na perfeição de seu Deus, porque segundo sua convicção uma exceção ou alteração é de todo impossível nas leis por Ele condicionadas. E essa é a maior fé! Ademais, todos os outros acontecimentos falam categoricamente a favor disso. Cristo tornou-se ser humano terreno. Com essa decisão teve que se sujeitar também às leis determinadas por Deus, referentes à reprodução de matéria grosseira, uma vez que a perfeição de Deus condiciona isso.

Se a esse respeito se deva dizer que “junto a Deus coisa alguma é impossível”, tal declaração assim velada não satisfaz, pois nessa expressão reside um sentido muito diferente do que muitas pessoas imaginam, devido ao seu comodismo. Bastará que se diga ser impossível haver em Deus imperfeição, falta de lógica, injustiça, arbitrariedade e outras tantas, para contradizer o teor das palavras dessa frase, segundo o conceito comum.

Poder-se-ia afirmar também que, se nesse sentido junto a Deus coisa alguma é impossível, Ele também poderia por um único ato de vontade tornar fiéis todos os seres humanos da Terra! Assim não precisaria expor Seu Filho às vicissitudes terrenas e à morte na cruz pela encarnação. Ter-se-ia evitado esse imenso sacrifício.

Mas o facto de que assim ocorreu, constituiu um testemunho da inflexibilidade das leis Divinas atuantes desde os primórdios da Criação, nas quais uma violação forçada para qualquer alteração é impossível devido a sua perfeição.

Em relação a isso, por sua vez, poderia ser replicado por aqueles que disputam tenaz e cegamente, que assim como aconteceu era da Vontade de Deus. Isso é dito de modo certo, mas não é absolutamente uma contraprova, ao contrário, na realidade um concordar da afirmativa anterior, em se abandonando a conceção mais ingénua e seguindo os esclarecimentos mais profundos, o que todos os ditos de natureza espiritual exigem categoricamente.

Era da Vontade de Deus! Isso, contudo, nada tem a ver com uma arbitrariedade, mas pelo contrário nada mais significa do que a confirmação das leis estatuídas por Deus na Criação, portadoras da Sua Vontade, e o incondicional enquadramento nelas a isso ligado, as quais não admitem uma exceção ou contorno. Exatamente na necessidade de cumprir comprova-se e efetua-se, sim, a Vontade de Deus. Do contrário Jesus nem precisaria ter nascido de uma mulher terrena, mas simplesmente poderia ter surgido de repente.

Por isso Cristo, para o desempenho de Sua missão, teve que se sujeitar, inevitavelmente, também a todas as leis da natureza, isto é, à Vontade de seu Pai. Que Cristo tenha feito tudo isso, comprova-o toda a sua vida. O nascimento normal, o crescimento, a fome que nele também se manifestava e o cansaço, os sofrimentos e por fim a morte na cruz. Também ele estava sujeito a tudo quanto um corpo humano está sujeito. Por que, então, única e exclusivamente a geração teria que ser de outra maneira, sem que houvesse absolutamente necessidade para isso. Justamente na naturalidade torna-se a missão do Salvador maior ainda, de modo algum diminuída! Igualmente Maria, por esse motivo, não foi menos agraciada em tão alta missão.

Abdruschin

                        

Dissertação 44 “A imaculada conceção e o nascimento do Filho de Deus” da obra “Na Luz da Verdade - Mensagem do Graal”, volume II

A morte do Filho de Deus na cruz e a Ceia

Novembro 02, 2015

Quando ocorreu a morte de Cristo, rasgou-se no Templo a cortina que separava o Santíssimo da humanidade. Tal acontecimento é tido em conta como símbolo de que com sacrifício do Salvador, cessava imediatamente a separação existente entre a humanidade e a Divindade, isto é, ficava criada uma ligação imediata.

Tal interpretação, porém, é errada. Pela crucificação recusaram as criaturas humanas o Filho de Deus como o Messias esperado, com o que a separação se tornou maior!

Rasgou-se a cortina porque, consequentemente, não havia mais necessidade do Santíssimo. Ficou exposto à vista e às correntes impuras, uma vez que, simbolicamente expresso, o Divinal depois desse facto não pôs mais o seu pé sobre a Terra, tornando-se assim supérfluo o Santíssimo.

Portanto, exatamente o contrário das interpretações de até agora, nas quais novamente, como tantas vezes, apenas se evidencia a grande presunção do espírito humano.

A morte na cruz não foi também um sacrifício indispensável, mas um assassínio, um verdadeiro crime. Qualquer outra explicação constitui uma evasiva que deve valer ou como desculpa ou como produto da ignorância. Cristo não desceu à Terra absolutamente com a intenção de se deixar crucificar. Nisso também não reside libertação! Cristo foi crucificado, no entanto, como um incómodo portador da Verdade, devido à sua doutrina.

Não foi a sua morte na cruz que podia e devia trazer a libertação, mas a Verdade que outorgou à humanidade em suas Palavras!

A Verdade, porém, era incómoda aos então dirigentes de religiões e de templos, um aborrecimento, visto lhes abalar fortemente a influência. Exatamente conforme ainda hoje, novamente, sucederia em tantos lugares. Quanto a isso, a humanidade não mudou. Os dirigentes de outrora se apoiavam, assim como os de hoje, em antigas e boas tradições, mas estas tinham-se tornado, por causa dos praticantes e esclarecedores, meras formas rígidas e vazias, sem serem mais vivas em si. Idêntico quadro ao que hoje novamente se apresenta de modo frequente.

Mas aquele que queria trazer essa vida indispensável à Palavra existente, trouxe com isso naturalmente uma revolução nas práticas e explicações, não no próprio Verbo. Libertou o povo da rigidez opressora e da vacuidade, salvou-o disso, e isso foi para aqueles, mui naturalmente, um grande aborrecimento, ao reconhecerem logo de que modo enérgico foi interferido assim nas rédeas de sua errada direção.

Por isso o portador da Verdade e libertador do fardo das interpretações erróneas teve que sofrer suspeita e perseguição. Quando não conseguiu, apesar de todos os esforços, torna-lo ridículo, tratou-se de apresenta-lo como inverosímil. Para tanto devia servir o “passado terrestre”, como filho dum carpinteiro, para taxa-lo de “inculto e por isso incapaz para a elucidação!”, de um leigo. Tal como acontece também hoje em relação a cada um que enfrente dogmas rígidos, os quais abafam já no germe todo o esforço ascendente, livre e vivo.

Nenhum dos adversários, por precaução, aprofundou-se em seus esclarecimentos, pois mui acertadamente sentiam que diante de uma réplica pura e objetiva deveriam ser derrotados. Ativeram-se, pois, em difamações vis, mediante seus instrumentos venais, a ponto de não temerem, por fim, em momento para eles propício, acusá-lo falsamente em público e levá-lo à cruz, a fim de afastar junto com ele a ameaça ao seu poderio e prestigio.

Essa morte violenta, outrora comumente praticada pelos romanos, não constituiu em si a salvação e nem a trouxe. Não remiu nenhuma culpa da humanidade, não a libertou de coisa alguma, antes sobrecarregou mais ainda a humanidade por se tratar de um assassínio da mais baixa espécie!

Se até os dias atuais, aqui e acolá, disso se desenvolveu um culto, vendo nesse assassínio um facto fundamental, necessário à obra de salvação do Filho de Deus, o ser humano fica então afastado do mais precioso, daquilo que unicamente pode trazer salvação. Desvia-o da missão essencial do Salvador, daquilo que constitui a necessidade de sua vinda à Terra, proveniente do Divinal.

No entanto, isso não se deu para sofrer a morte na cruz, pelo contrário, foi para anunciar a Verdade no amontoado da rigidez dogmática e da vacuidade, que arrastam o espírito humano para baixo! Foi para descrever as coisas entre Deus, a Criação e o ser humano, conforme são realmente.

Dessa forma tinha que cair automaticamente sem efeito tudo quanto o limitado espírito humano havia engendrado a tal respeito, e que encobris a realidade. Só então o ser humano pôde ver claramente diante de si o caminho que o conduz para cima.

Somente no trazer essa Verdade e na concomitante libertação de erros, reside a salvação, única e exclusivamente.

É a salvação da visão turva, da crença cega. A palavra “cega” já caracteriza suficientemente a situação errada.

A Ceia antes de sua morte foi uma Ceia de despedida. Quando Cristo disse: “Tomai, comei, este é o meu corpo. Bebei todos disto, este é meu sangue do novo testamento, que será derramado para muitos, para o perdão dos pecados”, declarava com isso que estava disposto até mesmo a aceitar a morte na cruz, de modo a ter ensejo de transmitir com seus esclarecimentos a Verdade à humanidade perdida, que indica, única e exclusivamente, o caminho para o perdão dos pecados.

Diz também, textualmente: “para o perdão de muitos”, e não acaso “para o perdão de todos”!

Por conseguinte, apenas para aqueles que aceitassem Suas explicações e delas tirassem aplicações vivas.

Seu corpo destruído pela morte na cruz e seu sangue derramado devem assim contribuir para que se reconheça a necessidade e a seriedade dos esclarecimentos trazidos por ele. Essa urgência deve ser meramente sublinhada pela repetição da Ceia e na Ceia!

Que o Filho de Deus não tenha recuado nem mesmo diante de uma tal hostilidade da humanidade, cuja probabilidade já tinha sido reconhecida de antemão, antes de sua vinda, (*) devia indicar especialmente a situação desesperada do espírito humano, que só poderia ser arrancado da ruína, agarrando-se à corda de salvação da Verdade sem disfarce.

A referência do Filho de Deus, durante a Ceia, à sua morte na cruz, é apenas uma última e expressa indicação sobre a necessidade categórica de seus ensinamentos, os quais veio trazer!

Ao tomar a Ceia deve, pois, cada pessoa se dar conta sempre de novo de que o próprio Filho de Deus não temeu a pressuposição de uma morte na cruz causada pela humanidade, e que deu corpo e sangue a fim de possibilitar à humanidade o recebimento da descrição do real fenómeno no Universo, que mostra nitidamente os efeitos das leis imutáveis que trazem em si a Vontade Divina!

Com esse reconhecimento da severidade amarga, que realça a necessidade urgente da Mensagem para a salvação, deve renascer constantemente nas criaturas humanas nova força, novo impulso para realmente viverem segundo os claros ensinamentos de Cristo, a fim de não só compreendê-los direito, mas também agirem em tudo de acordo com eles. Com isso obterão então também perdão de seus pecados e salvação! Não diferentemente. Nem imediatamente. Mas encontrá-los-ão impreterivelmente, no caminho que Cristo mostra em sua Mensagem.

Por essa razão deve a Ceia sempre de novo vivificar o acontecimento, a fim de que não se enfraqueça o zelo salvador em seguir os ensinamentos trazidos com tamanho sacrifício, pois pela indiferença que se inicia ou pelas formas meramente externas, as criaturas humanas perdem essa corda de salvação, tornando a cair nos tentáculos dos erros e da destruição.

É um grande erro as criaturas humanas acreditarem que pela morte na cruz esteja garantido o perdão de seus pecados. Esse pensamento acarreta o terrível dano de que todos aqueles que nisso creem serão por isso retidos do verdadeiro caminho para a salvação, que está, única e exclusivamente, no facto de viver de acordo com as palavras do Salvador, de acordo com as explicações que deu, por ser conhecedor e por abranger tudo com a visão. E essas explicações mostram, em quadros práticos, a necessidade de observar e dar apreço à Vontade Divina, que se encontra nas leis da Criação, bem como aos seus efeitos, na obediência e desobediência.

Sua obra salvadora consistiu em trazer essa explicação, que devia mostrar as falhas e os danos das práticas religiosas, pois ela trouxe em si a Verdade, a fim de iluminar a escuridão crescente do espírito humano. Não consistiu a morte na cruz, tampouco no facto de a Ceia ou a hóstia consagrada poderem oferecer perdão direto dos pecados. Esse pensamento é contra toda a lei Divina! Com isso cai também o poder dos seres humanos de perdoar pecados. Uma pessoa só tem o direito e também o poder de perdoar o que lhe foi feto por outrem pessoalmente, e mesmo assim só quando seu coração, sem ser influenciado, a isso impele.

Quem refletir deveras, reconhecerá a Verdade, e assim o caminho verdadeiro! Os que têm preguiça de pensar e os indolentes que não conservarem continuamente preparada, com cuidado e atenção, a lamparina a eles confiada pelo Criador, isto é, a faculdade de examinar e elucidar, facilmente podem perder a hora, como as tolas virgens da parábola, quando a “Palavra da Verdade” chegar a eles. Uma vez que se deixaram adormecer em cansado comodismo e crença cega, não serão capazes de reconhecer, por sua indolência, o portador da Verdade ou noivo. Têm de ficar então para trás, quando os vigilantes entrarem no reino da alegria.

Abdruschin

 

(*) Dissertação: “Fenómeno universal”

                        

Dissertação 45 “A morte do Filho de Deus na cruz e a Ceia” da obra “Na Luz da Verdade - Mensagem do Graal”, volume II

Desce da cruz

Novembro 02, 2015

Se és Filho de Deus, então desce da cruz! Ajuda a ti mesmo e a nós!” De modo escarnecedor, ressoaram essas frases em direção ao Filho de Deus, quando sofreu na cruz sob os raios abrasadores do sol.

As criaturas humanas que assim bradavam, tinham-se em conta de extraordinariamente sagazes.

Escarneciam, triunfavam, riam cheias de ódio, sem terem sequer um motivo próprio para tanto; pois o sofrimento de Cristo não era evidentemente razão para sarcasmo e zombaria, e muito menos para risos. Desvanecer-se-lhes-ia isso, se apenas por um instante tivessem podido “ver” os fenómenos concomitantes nos reinos de matéria fina e espiritual, pois suas almas foram aí atadas pesadamente por milénios. Mesmo que o castigo não tenha podido se tornar logo visível na matéria grosseira, veio no entanto em todas as vidas terrenas posteriores, para as quais as almas pecaminosas foram obrigadas.

Os escarnecedores de então tinham-se em conta de espertos. Todavia, não puderam dar uma expressão mais acertada, como prova de sua estreiteza, do que com aquelas palavras, pois, aí reside a conceção mais pueril que se possa imaginar. Os que assim falam, longe se encontram de qualquer compreensão da Criação e da Vontade de Deus na Criação. Como é deprimente, portanto, o triste saber de que ainda hoje uma grande parte daqueles, que aliás, ainda creem em Deus e na missão de outrora de Seu Filho, pensam firmemente que Jesus de Nazaré poderia ter descido da cruz se apenas tivesse desejado.

Após dois mil anos, ainda a mesma sonolenta estreiteza, sem modificação para o progresso! Segundo a opinião ingénua de muitos que creem em Deus, Cristo, por ter vindo de Deus, devia ser ilimitado em suas atuações nesta Terra.

É uma expetativa oriunda da ingenuidade mais mórbida, uma crença resultante da preguiça de raciocinar.

Com a encarnação, o Filho de Deus também foi “posto sob a lei”, isto é, ele se submeteu com isso às leis da criação, à Vontade inamovível de Deus na Criação. Aí não há quaisquer alterações no que se refere ao corpo terrenal atado à Terra. Obedecendo à Vontade de Deus, Cristo sujeitou-se voluntariamente a essa lei, pois não veio para derrubá-la, mas para cumpri-la com a encarnação nesta Terra.

Por isso ele estava também ligado a tudo aquilo a que o ser humano terreno se acha ligado, e não podia, como Filho de Deus, descer da cruz, apesar de seu poder e de sua força de Deus, enquanto se encontrasse em carne e sangue de matéria grosseira. Isso equivaleria uma ao desmoronamento da Vontade Divina na Criação!

Esta Vontade porém, é perfeita desde os primórdios. E em tudo, não apenas na matéria grosseiro-terrenal, mas também na matéria fina, assim como no enteal e no espiritual, com todas as suas gradações e transições. Não diferente no Divinal e também no próprio Deus.

A atuação Divina, a força e o poder Divino apresentam-se de modo bem diferente do que nas demonstrações teatrais. Justamente o Divinal vive apenas no cumprimento absoluto da Vontade Divina, jamais querendo algo diferente. De modo idêntico, a criatura humana que tem elevada maturidade espiritual. Quanto mais desenvolvida estiver, tanto mais incondicionalmente se curvará às leis Divinas na Criação, de modo voluntário, alegre. Jamais esperará atos arbitrários que se encontrem fora das leis correntes da Criação, porque acredita na perfeição da Vontade Divina.

Se um corpo de matéria grosseira se encontra pregado na cruz, não conseguirá libertar-se sem ajuda alheia e sem auxílio de matéria grosseira. Isso, segundo a Divina Vontade Criadora, é lei que não se deixa transpor. Quem pensa de modo diferente e espera outra coisa, não crê na perfeição de Deus e na imutabilidade de Sua Vontade.

Que os seres humanos, não obstante seu suposto progresso no saber e na capacidade, ainda não se tornaram diferentes, que ainda se encontram lá onde estiveram outrora, testemunham ao bradarem novamente hoje:
“Sendo Ele o Filho do Homem, então pode, assim que quiser, desencadear as catástrofes que estão profetizadas.” Pressupõem isso como algo evidente. Isso significa, porém, com outras palavras: “Não conseguindo tal, então não é o Filho do Homem.”

No entanto, os seres humanos sabem muito bem que Cristo, como Filho de Deus, já indicara, a tal propósito, que ninguém, a não ser Deus-Pai exclusivamente, conhece a hora em que se iniciará o Juízo. É portanto dupla dúvida, quando as criaturas humanas falam dessa maneira. Dúvida quanto ao Filho do Homem e dúvida quanto à Palavra do Filho de Deus. Além disso, tal asserção por sua vez somente testemunha a falta de compreensão referente a toda a Criação. A total ignorância exatamente em tudo aquilo que é mais necessário para cada ser humano saber.

Se o Filho de Deus teve que se submeter à Vontade de Deus na Criação, ao se encarnar, não pode evidentemente o Filho do Homem se encontrar acima dessas leis. Um estar acima das leis é inteiramente impossível na Criação. Quem ingressa na Criação está com isso também sob a lei da Vontade Divina, que jamais se altera. Assim também o Filho de Deus e o Filho do Homem. Uma grande lacuna na possibilidade de compreensão de tudo isso advém apenas da circunstância dos seres humanos ainda não haverem procurado essas leis de Deus na Criação, não as conhecendo por conseguinte até hoje, tendo apenas encontrado aqui e acolá pequenos fragmentos disso, onde justamente tropeçaram.

Se Cristo realizou milagres que jazem muito além das possibilidades dos seres humanos terrenos, isso não justifica o pensamento de que não precisasse preocupar-se com as leis da Vontade de Deus que residem na Criação, passando por cima delas. Isso é impossível. Mesmo nos milagres, agia de plena concordância com as leis de Deus e não arbitrariamente. Com isso apenas provou que trabalhava com força Divina e não espiritual, sendo evidente, por conseguinte, que nos efeitos ultrapassasse de longe as capacitações humanas. Os milagres, no entanto, não estavam fora das leis da Criação; pelo contrário, enquadravam-se completamente às mesmas.

Tão atrasado ficou o ser humano em seu desenvolvimento espiritual, que nem sequer conseguiu pleno desabrochamento das forças espirituais a ele disponíveis, do contrário também realizaria feitos que chegariam ao milagroso, nos conceitos de hoje.

Com força Divina, porém, naturalmente podem ser criadas obras ainda bem diferentes que com força espiritual jamais poderiam ser alcançadas e que já por sua natureza se diferenciam das mais elevadas atuações espirituais. Contudo, todos os acontecimentos permanecem dentro dos limites da regularidade das leis Divinas. Nada vai além disso.

[…]

Somente todas as leis dos planos universais isolados, reunidas, resultam então outra vez em leis plenas, que foram colocadas pela Vontade Divina na Criação primordial, no reino espírito-primordial.

Por isso um germe do espírito humano tem de percorrer todos os planos do Universo, de maneira a vivenciar suas leis peculiares e vivificá-las dentro de si. Tendo colhido daí todos os bons frutos, terá então realmente adquirido consciência dessas leis e poderá, consequentemente, se as tiver utilizado direito e de acordo com a Vontade de Deus, entrar no Paraíso; será levado pelas leis em suas efetivações para lá, a fim de, partindo de lá, interferir conscientemente então, auxiliando e beneficiando nos planos parciais que se encontram abaixo dele, como missão suprema de cada espírito humano desenvolvido.

Aglomeração excessiva jamais poderá ocorrer, visto que os planos universais existentes podem ser estendidos ilimitadamente, pois pairam no infinito.

Assim se vai tornando cada vez maior o Reino de Deus, edificado e ampliado gradualmente pela força dos espíritos humanos puros, cujo campo de atuação terá de ser a Criação posterior, que poderão dirigir do Paraíso, visto eles mesmos já haverem percorrido antes todas as partes e assim chegado a pleno conhecimento delas.

Estas explicações estão aqui apenas para que não surjam equívocos devido às referências à força Divina e à força espiritual, já que de facto só existe uma força única proveniente de Deus, da qual se formaram as variações.

Quem conhece todos esses fenómenos, jamais manifestará esperança pueril de coisas que nunca poderão ocorrer, por se acharem fora de cada uma das leis da Criação. Assim também o Filho do Homem não desencadeará catástrofes com o estender de sua mão, as quais devam realizar-se imediatamente. Isso seria contrário às existentes e inalteráveis leis da natureza.

O espiritual é mais móvel e mais leve, portanto também mais rápido do que o enteal. Por isso o enteal necessita de mais tempo do que o espiritual na efetivação. Por essa razão, naturalmente, o enteal, isto é, o acontecimento elementar, terá que concretizar-se também mais tarde do que o espiritual. da mesma forma, através dessas forças, a matéria fina se move mais depressa do que a matéria grosseira. Todas as leis devem ser cumpridas, não podem ser contornadas nem rompidas.

Todas essas leis são conhecidas na Luz, e o envio dos emissários realizadores ou de ordens especiais é disposto de tal modo, que os efeitos finais acontecem como por Deus é desejado.

Um dispêndio de grandeza, incompreensível aos seres humanos, tornou-se necessário para o atual Juízo. Funciona tudo tão certo, no entanto, que na verdade não ocorrem retardamentos… até chegar nos pontos onde a vontade humana deve colaborar. Somente os seres humanos insistem, sempre, com tola obstinação, em se manter fora de cada realização ou até mesmo em se colocar no caminho, impedindo perturbadora e hostilmente… com presunção que prende à Terra.

Após a grande falha das criaturas humanas, durante a existência terrena do Filho de Deus, isso agora foi felizmente levado em conta. Os seres humanos com seu falhar somente podem dificultar o caminho terrestre do Filho do Homem apenas até certo tempo, de modo que ele terá que andar por atalhos, volteando, mas não conseguem deter os acontecimentos desejados por Deus, ou até mesmo alterar de algum modo o desfecho predeterminado, pois já lhes foi tirado o apoio das trevas na retaguarda, supridor de forças para as tolices, enquanto as muralhas de seu atuar intelectivo, por trás das quais, acobertados, ainda atiram flechas venenosas, desmoronarão rapidamente sob a pressão da Luz em avanço.

Precipita-se então o descalabro sobre eles, e nenhuma graça deverá ser concedida, depois do mal que seu tramar sempre de novo criou funestamente. Assim, o dia, ardentemente almejado por aqueles que se esforçam para a Luz, não chegará nem uma hora mais tarde do que deve ser.

Abdruschin

                        

Excerto da Dissertação 46 “Desce da cruz” da obra “Na Luz da Verdade - Mensagem do Graal”, volume II

Esta é a minha carne! Este é o meu sangue!

Novembro 02, 2015

Quem aceita minha Palavra, aceita a mim”, disse o Filho de Deus a seus discípulos, “em verdade come da minha carne e bebe do meu sangue!”

Assim é o sentido das palavras que o Filho de Deus pronunciou, quando instituiu a Ceia, e as quais, juntamente com a Ceia, ele simbolizou em memória de sua peregrinação pela Terra. Como podia ocorrer que a tal respeito eclodissem violentas disputas entre os eruditos e as igrejas! O sentido é tão simples e tão claro, se a criatura humana colocar como base que Jesus Cristo, o Filho de Deus, era a Palavra de Deus encarnada.

Como poderia ele falar a esse respeito mais nitidamente do que com as simples palavras: “Quem aceita a minha Palavra, come do meu corpo e bebe do meu sangue!” Também quando disse: “A Palavra é verdadeiramente meu corpo e meu sangue!” Tinha, pois, que falar assim, porque ele próprio era a Palavra viva em carne e sangue.

Em todas as transmissões apenas o principal foi sempre de novo omitido: a indicação à Palavra que peregrinou pela Terra! Por esta não ter sido entendida julgavam-na de pouca importância. Com isso, porém, toda a missão de Cristo foi incompreendida, mutilada, desfigurada.

Nem aos discípulos do Filho de Deus naquele tempo, apesar de sua fé, foi dada a possibilidade de compreenderem acertadamente essas palavras de seu mestre, assim como tantas coisas ditas por ele nunca compreenderam direito. A esse respeito o próprio Cristo manifestou sua tristeza com bastante frequência. Formaram simplesmente o sentido da Ceia àquela maneira como haviam compreendido em sua simplicidade infantil. É evidente que aí reproduzissem também as palavras, pouco claras para eles, de maneira correspondente à sua própria compreensão, não porém assim como o Filho de Deus as tinha em mente.

Jesus era a Palavra de Deus encarnada! Portanto, quem acolhesse direito a sua Palavra dentro de si, com isso acolhia também a ele próprio.

E se uma pessoa deixa tornar-se viva dentro de si a Palavra de Deus a ela oferecida, de tal forma que se lhe torne uma naturalidade no pensar e no atuar, então ela vivifica o espírito de Cristo dentro de si com a Palavra, porque o Filho de Deus foi a encarnação viva da Palavra de Deus!

A criatura humana terá apenas que se esforçar para penetrar finalmente nesse pensamento de modo certo. Não deve apenas ler e tagarelar a respeito, mas procurar vivificar com imagens também esse pensamento, isto é, vivenciar serenamente o sentido com imagens vivas. Então vivenciará realmente a Ceia, pressupondo-se que reconheça nisso o recebimento da Palavra viva de Deus, devendo naturalmente conhecer de antemão e a fundo seu sentido e querer.

Não é tão cómodo assim, conforme pensam tantos fiéis. Aceitação bronca da Ceia não lhes pode trazer nenhum proveito, pois aquilo que é vivo, como a Palavra de Deus, quer e também deve ser considerado de modo vivo. A igreja não consegue infundir vida à Ceia para outrem, enquanto esse coparticipante da Ceia não houver antes preparado em si próprio o lugar para recebê-la direito.

Vêem-se igualmente quadros que visam reproduzir a bela expressão: “Eu bato à porta!” Os quadros são certos. O Filho de Deus está parado diante da porta da cabana e bate, querendo entrar. Ora, o ser humano aí já adicionou novamente do seu próprio pensar, deixando ver pela porta entreaberta a mesa posta na cabana. Surge assim o pensamento de que não deve ser repelido ninguém que peça de comer e de beber. O pensamento é belo e também corresponde à Palavra de Cristo, mas interpretado de modo demasiado restrito nisso. O “Eu bato à porta” significa mais! A caridade é apenas uma pequena parte do conteúdo da Palavra de Deus.

Quando Cristo diz: “Eu bato à porta”, quer ele dizer com isso que a Palavra de Deus, por ele corporificada, está batendo à porta da alma humana, não para pedir ingresso, mas sim exigindo entrada! A Palavra deve ser aceita com toda a amplitude com que é oferecida às criaturas humanas. A alma deve abrir sua porta para a entrada da Palavra, e deve estar preparada em si a mesa para isso. A expressão “mesa” equivale aqui a altar. Obedecendo a essa exigência, os atos de matéria grosseira da criatura humana terrena serão então de uma naturalidade tal, como requer a “Palavra”.

A criatura humana sempre procura apenas uma compreensão intelectiva, o que significa dissecação e com isso diminuição, um estabelecimento de limites mais restritos. Por isso, incorre sempre de novo no perigo de reconhecer só fragmentos de tudo o que é grande, conforme sucedeu também aqui, novamente.

A encarnação da Palavra viva de Deus deverá permanecer aos seres humanos terrenos sempre um mistério, porque o início desse fenómeno se desenrolou no Divinal. Até no Divinal, porém, a capacidade de compreensão do espírito humano não consegue penetrar, ficando assim vedada à compreensão da criatura humana a primeira fase para a futura encarnação.

Portanto, não é surpreendente que exatamente essa ação simbólica do Filho de Deus, que consistiu na distribuição do pão e do vinho, ainda não pudesse ser compreendida até hoje pela humanidade. Mas quem depois desse esclarecimento, que lhe permite imaginar um quadro, ainda quer bradar contra tal propósito, prova apenas que os limites de sua compreensão terminam no espiritual. Sua defesa em favor da explicação literalmente antinatural de até então, daquelas palavras de Cristo, testemunharia apenas uma obstinação inescrupulosa.

Abdruschin

                        

Dissertação 47 “Esta é a minha carne! Este é o meu sangue!” da obra “Na Luz da Verdade - Mensagem do Graal”, volume II

Ressurreição do corpo terreno de Cristo

Novembro 02, 2015

Perfeito é Deus, o Senhor! Perfeita a Sua Vontade, que está Nele e Dele emana para gerar e conservar a obra da criação. Perfeitas são, por isso, também as leis que em Sua Vontade perpassam a Criação.

Perfeição, no entanto, exclui de antemão qualquer desvio.

É esta a base que justifica incondicionalmente a dúvida a propósito de tantas afirmações! Várias doutrinas se contradizem, porque ao mesmo tempo que ensinam acertadamente a perfeição de Deus, estabelecem asserções absolutamente opostas, exigindo que se creia em coisas que excluem a perfeição de Deus e de Sua Vontade, que se encontra nas leis da criação.

Com isso disseminou-se em muitas doutrinas o germe da doença. Verme corroedor que um dia deverá fazer desmoronar toda a estrutura. Tal desmoronamento será tanto mais inevitável, onde tais contradições se tornarem as colunas mestras, não apenas pondo em dúvida a perfeição de Deus, mas até mesmo negando-a diretamente! Essa negação da perfeição de Deus faz até parte das exigências de credos dogmáticos, as quais só então possibilitam a entrada nas comunidades.

Temos aí a questão sobre a ressurreição da carne com referência à ressurreição do corpo terreno do Filho de Deus, que a maioria das pessoas aceita impensadamente, sem deixar entrever a mínima compreensão. Outros, por sua vez, apropriam-se de tal asserção com uma ignorância totalmente consciente, por não disporem do preceptor que pudesse dar uma explanação correta sobre isso.

Que quadro triste se oferece aí ao observador sereno e sincero. Quão lastimáveis se apresentam diante dele tais pessoas, as quais muitas vezes ainda se consideram orgulhosamente como partidárias fervorosas de sua religião, como fiéis ortodoxos, quando demonstram o fervor ao olhar precipitadamente com ignorante desdém para quantos pensam de modo diverso, sem pensar que exatamente isso tem de ser considerado como sinal infalível de absoluta incompreensão.

Quem, sem perguntar, aceita e confessa como convicção própria assuntos importantes, mostra com isso ilimitada indiferença, mas nenhuma verdadeira fé.

Nessa situação se encontra um tal ser humano diante Daquele que ele costuma chamar de Altíssimo e de Santíssimo, o que deveria significar para ele o conteúdo e o apoio para toda a existência.

Com isso ele não é um elo vivo de sua religião, a quem possa advir ascensão e libertação, mas um metal ressoante, apenas um chocalho vazio e tininte, alguém que não compreende as leis de seu Criador e nem se empenha por reconhece-las.

Para todos que assim agem, isso significa uma parada e um retrocesso no caminho que deve conduzi-los para fins de evolução e benefício através da matéria, rumo à Luz da Verdade.

Também a conceção errada da ressurreição da carne é, como qualquer outra conceituação errónea, um estorvo gerado artificialmente, que eles levam consigo para o Além, diante do qual têm que ficar parados, não podendo prosseguir, porque não podem libertar-se disso sozinhos, pois a crença errada pende firmemente neles, atando-os de tal modo, que qualquer livre visão para a Verdade luminosa lhes é cortada.

Não ousam pensar diferentemente, e por isso não podem progredir. Com isso advém o perigo de que as almas, que se mantém assim atadas por si próprias, percam ainda o último prazo de se libertarem, não ascendendo à Luz em tempo, pelo que terão de resvalar para a decomposição, encontrando como meta final a condenação eterna.

Condenação eterna é estar permanentemente desligado da Luz. É ficar separado dela, por si próprio e para sempre, pela natureza do fenómeno lógico de não poder voltar à Luz como personalidade plenamente consciente e desenvolvida. Essa circunstância decorre do arrastamento à decomposição, que pulveriza e dissolve junto com o corpo de matéria fina também tudo o que houver sido conquistado espiritualmente de pessoal-consciente. (*) É então a chamada “morte espiritual”, da qual não pode mais haver nenhuma ascensão à Luz para o “Eu” consciente que até aí se havia desenvolvido, ao passo que este, numa ascensão, não somente permanece, mas continua evoluindo até à perfeição espiritual.

A pessoa que passa para o Além com uma crença errada ou irrefletidamente aceita como sendo própria, permanece impedida até se tornar livre e viva em si mesma mediante outra convicção, rompendo assim o obstáculo que devido à sua própria crença a impede de tomar o caminho certo e verdadeiro, e de ali prosseguir.

[…]

O cumprimento incondicional das leis da Vontade Divina ou da natureza verificou-se também no ressuscitar de Lázaro, bem como no do moço de Naim. Estes puderam ser ressuscitados porque o cordão de ligação com a alma ainda subsistia. Ante o chamado do mestre pôde a alma se tornar novamente una com o corpo. E este ficou então obrigado, devido às leis da natureza, a permanecer no mundo da matéria grosseira, até que ocorresse um novo desenlace entre o corpo de matéria grosseira e o de matéria fina, possibilitando a este último ingressar no Além de matéria fina, isto é, seguindo-se uma nova morte grosso-material.

A passagem do corpo de matéria grosseira para um outro mundo é porém coisa impossível. Se o espírito de Cristo houvesse reingressado no corpo de matéria grosseira ou se nem o tivesse abandonado, teria sido obrigado a permanecer na matéria grosseira, até que sobreviesse uma nova morte, não diferentemente.

Uma ressurreição em carne para um outro mundo é inteiramente impossível para os seres humanos, assim como também para Cristo naquele tempo!

O corpo terreno do Salvador seguiu o mesmo caminho que tem de seguir qualquer outro corpo de matéria grosseira, segundo as leis naturais do Criador.

Por conseguinte, Jesus de Nazaré, o Filho de Deus, não ressuscitou carnalmente!

E todavia, não obstante toda a lógica e a muito maior veneração a Deus justamente aí contida, ainda haverá muitos que na cegueira e na indolência de sua crença errada não quererão seguir os caminhos tão simples da Verdade. Certamente também muitos que não poderão seguir devido à própria restrição. Outros, por sua vez, que tentarão lutar raivosamente contra isso com intenção plena, pelo receio bem fundado de que toda a sua estrutura de crença cómoda soerguida com esforço terá que ruir.

De nada lhes pode adiantar se, como base, se apoiarem em tradições verbais, pois os discípulos, também eram seres humanos. É, pois, puramente humano, se naquele tempo os discípulos, fortemente abalados por causa de todo aquele horrível acontecimento, tenham, ao se recordarem, entretecido vários de seus próprios pensamentos em suas narrações, transmitindo muita coisa diferentemente do que na realidade havia ocorrido, devido à visão precedente de milagres a eles próprios ainda inexplicáveis.

Assim como na errónea fusão do Filho de Deus e do Filho do Homem, seus escritos e narrativas muitas vezes basearam-se em demasia nas próprias pressuposições humanas, as quais estabeleceram para mais tarde a base de muitos erros.

Mesmo que tivessem a seu lado, como auxílio, a mais forte inspiração espiritual, apesar disso interferem intensamente na retransmissão opiniões preconcebidas, turvando muitas vezes a mais bem-intencionada e a mais clara imagem.

O próprio Jesus, no entanto, não deixou quaisquer escritos nos quais, unicamente, seria possível basear-se de modo incondicional e categórico.

Nunca teria dito ou escrito algo que não concordasse com as leis de seu Pai, as leis Divinas da natureza ou a Vontade Criadora de modo pleno e integral. Ele próprio disse, pois, expressamente:

“Vim para cumprir as Leis de Deus!”

As leis de Deus, porém, repousam nítidas na natureza, a qual, aliás, estende-se para mais longe do que somente à matéria grosseira, permanecendo, no entanto, “natural” por toda a parte, bem como no mundo da matéria fina, no enteal e no espiritual. Uma pessoa que reflete, certamente conseguirá encontrar nessas significativas palavras do Salvador algo que mostre um caminho para quantos perscrutam com seriedade e que ultrapasse os confusos dogmas religiosos!

Além disso, porém, cada pessoa pode achar sobre isso pontos de apoio na Bíblia, pois Jesus apareceu a muitos. Mas o que aconteceu? A princípio, Maria não o reconheceu, Madalena não o reconheceu de imediato, os dois discípulos no caminho de Emaús não o reconheceram durante horas, não obstante andasse com eles e lhes falasse… que se deve concluir disso? Que devia ser um outro corpo o que eles viram, do contrário todos o teriam reconhecido imediatamente! Pois que continue surdo quem não quiser ouvir, e cego quem é demasiadamente indolente para abrir seus olhos!

O conceito geral “ressurreição da carne” encontra sua justificativa nos nascimentos terrenos, que não cessarão enquanto houver criaturas humanas terrenas. É uma grande promessa a da concessão de repetidas vidas terrenas, de renovadas encarnações com o objetivo de um progresso mais rápido e indispensável resgate de efeitos recíprocos de espécies inferiores, equivalendo a um perdão dos pecados. Uma prova do incomensurável Amor do Criador, cuja graça se encontra no facto de que para as almas desencarnadas, que malbarataram total ou parcialmente seu tempo terreno e por isso chegaram no Além imaturas para uma escalada, é dada mais uma vez oportunidade de se envolverem com um novo corpo de matéria grosseira ou manto, pelo que sua carne deixada festeja uma ressurreição na nova carne. Com isso a alma desencarnada vivencia uma nova ressurreição na carne!

Que bênção se encontra nessa realização continuamente repetida de uma tão sublime graça, o espírito humano, que não consegue abranger tudo com a vista, somente mais tarde poderá compreender!

Abdruschin

                        

Excerto da Dissertação 48 “Ressurreição do corpo terreno de Cristo” da obra “Na Luz da Verdade - Mensagem do Graal”, volume II

Conceito humano e vontade de Deus na lei da reciprocidade

Novembro 02, 2015

Quando se deve falar em conceito humano e em conceção humana, a que também se acha ligada a justiça terrena, não se deve esperar que isso equivalha à Justiça Divina ou que sequer se lhe aproxime. Pelo contrário, deve-se infelizmente dizer que na maior parte dos casos existe até uma diferença tão grande como o céu. Nessa confrontação a expressão popular “tão grande como o céu” é apropriada no mais verdadeiro sentido.

Essa diferença poderia ser explicada muitas vezes em face do raciocínio da humanidade, limitado ao espaço e ao tempo, o qual em sua estreiteza não consegue reconhecer o erro propriamente e separá-lo do certo, uma vez que isso raramente é reconhecível de modo claro por exterioridades, mas se encontra pura e simplesmente no mais íntimo de cada pessoa, para cujo julgamento, rígidos parágrafos de lei e sabedoria escolar não bastam. É entristecedor, porém, que por esse motivo tantos julgamentos dos tribunais humanos tenham de estar em oposição direta à justiça Divina.

Não é o caso de se falar dos tempos da Idade Média nem das épocas tristes das torturas angustiosas, bem como das chamadas cremações de bruxas e de outros crimes da justiça. Tampouco devem ser mencionadas as inúmeras cremações, torturas e assassínios que entram no débito das comunidades religiosas, devendo em seus efeitos recíprocos atingir os praticantes de modo duplamente pavoroso, porque abusaram aí do nome do Deus perfeito, cometendo em Seu nome todos aqueles crimes, como supostamente agradáveis a Ele e, com isso, cunhando-O perante os seres humanos como responsável por aquilo.

Abusos e barbaridades que não deveriam ser esquecidos tão depressa, mas que se devia fazer voltar à memória como advertência, sempre de novo, também nos julgamentos de hoje, principalmente porque os que outrora assim agiam, cometiam tais incongruências aparentando a melhor boa-fé e o mais pleno direito.

Muito mudou. Contudo, virá o tempo, evidentemente, em que se voltará a olhar com semelhante horror para a justiça atual, como nós, hoje, encaramos os tempos acima citados, os quais, segundo o nosso atual reconhecimento, encerram tanta injustiça. Esse é o curso do mundo, e um certo progresso.

Olhando-se mais profundamente, porém, o aparentemente grande progresso entre o tempo de outrora e o de hoje encontra-se apenas nas formas externas. O poder absoluto de um só, profundamente incisivo na existência inteira de tantas pessoas na Terra, continua frequentemente ainda o mesmo, sem a responsabilidade pessoal daquele. Também não mudaram muito os seres humanos, nem os motivos de suas ações. E onde a vida interior ainda é a mesma, iguais são também os efeitos recíprocos que trazem em si o Juízo Divino.

Se a humanidade subitamente se tornasse vidente a tal respeito, a consequência somente poderia ser um único grito de desespero. Um horror que se estenderia sobre todos os povos. Ninguém levantaria a mão contra o seu semelhante com recriminações, uma vez que cada um, individualmente, sentiria sobre si de algum modo o peso de idêntica culpa. Não tem nenhum direito de enfrentar a outrem repreensivelmente nisso, uma vez que até então cada qual julgou erroneamente apenas segundo as aparências externas, não dando importância a toda a vida real.

Muitos se desesperariam consigo mesmos no primeiro facho de luz, se este pudesse penetrar neles sem estarem preparados, ao passo que outros, que até agora jamais se deram tempo para refletir, deveriam sentir intuitivamente incomensurável exasperação por haverem dormido durante tanto tempo.

Por isso é, pois, oportuno o estímulo para a reflexão serena e para o desenvolvimento da justa capacidade de julgamento próprio, a qual repele qualquer inclinação cega a opiniões alheias e somente assimila, pensa, fala e age de acordo com a sua própria intuição!

Jamais o ser humano deve esquecer-se de que ele completamente só terá de responder por tudo aquilo que ele intui, pensa e faz, mesmo que o tenha aceitado de outrem de modo incondicional!

Feliz aquele que alcança essa altura, indo de encontro a cada parecer de modo criterioso, para então agir segundo os suas próprias intuições. Assim não coparticipa da culpa, como milhares que muitas vezes se sobrecarregam com um carma pesado, apenas por leviandade e sensacionalismo, por preconceitos e difamação, o que os leva a regiões cujos sofrimentos e dores jamais necessitariam conhecer. Com isso, frequentemente, já na Terra se deixam reter de muito do que é realmente bom, perdendo com isso não somente muito em benefício próprio, mas põem em jogo assim talvez tudo, sua existência inteira.

Assim foi com o ódio inflamado e insensato contra Jesus de Nazaré, cujo motivo propriamente poucos apenas dos malévolos vociferadores conheciam, ao passo que os demais se entregavam simplesmente a uma fúria totalmente ignorante e cega, gritando em conjunto, sem que jamais tivessem, pessoalmente, estado em contacto com Jesus. Não menos perdidos estão também todos aqueles que baseados em opiniões erróneas de outros, afastaram-se dele e nem sequer ouviram suas palavras, e muito menos ainda se deram ao trabalho de um exame criterioso, com o que, não obstante, poderiam ter reconhecido finalmente o valor.

Somente assim pôde amadurecer a desvairada tragédia que colocou sob acusação de blasfémia exatamente o Filho de Deus, levando-o à cruz. Ele, o único que promanava diretamente de Deus e lhes anunciava a Verdade sobre Deus e a Sua Vontade!

Esse fato é tão grotesco, que nele se patenteia com ofuscante clareza toda a mesquinhez das criaturas humanas.

E de lá para cá a humanidade não progrediu interiormente, pelo contrário, só regrediu, não obstante todas as outras descobertas e invenções.

Apenas o que progrediu, e isso em função dos êxitos exteriores, foi a presunção de sempre se querer saber mais, a qual foi gerada e cultivada exatamente pela estreiteza, sendo, aliás, uma característica específica da estreiteza.

E nesse solo, que durante dois milénios se foi tornando cada vez mais fértil, é que brotaram as conceções humanas atuais, que atuam de modo decisivo e devastador, enquanto as criaturas humanas, sem pressentirem, enleiam-se a si mesmas nisso, cada vez mais, para sua própria horrível fatalidade.

Quem nisso tudo, através de falsas conceções, atrai para si, muitas vezes de boa-fé, efeitos maus de uma correnteza recíproca, agindo portanto contra as leis Divinas, isso até agora raras vezes se tornou claro a alguém. O número é grande, e muitos, em sua vaidade, sem o pressentir, estão inclusive orgulhosos a respeito disso, até que um dia terão de ver a Verdade com angustioso pavor, a qual é tão diferente daquilo que sua convicção os deixou imaginar.

Mas então será tarde de mais. A culpa com que se sobrecarregaram terá de ser remida em luta penosa consigo mesmos, muitas vezes por decénios.

Longo e difícil é o caminho até o reconhecimento, quando uma pessoa perdeu a oportunidade favorável da existência terrena e se sobrecarregou, até intencionalmente, ou por ignorância, ainda com novas culpas.

Desculpas, aí, jamais são consideradas de importância. Cada um pode sabê-lo, se quiser!

Quem sentir o anseio de reconhecer uma vez a Justiça Divina no decurso dos efeitos recíprocos, em contraste com conceções terrenas, este se esforce em observar algum exemplo da vida terrena a respeito, examinando aí de que lado se acha realmente o certo e o errado. Muitos se lhe apresentarão, diariamente.

Em breve sua própria capacidade de sentir intuitivamente se desenvolverá mais acentuada e mais viva, para lançar fora, finalmente, todos os preceitos aprendidos de conceções falhas. Surge assim um sentimento intuitivo de justiça, que pode confiar em si mesmo, porque, no reconhecer de todos os efeitos recíprocos, acolhe a Vontade Deus, nela está e atua.

Abdruschin

                        

Dissertação 49 “Conceito humano e vontade de Deus na lei da reciprocidade” da obra “Na Luz da Verdade - Mensagem do Graal”, volume II

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