A morte
Novembro 03, 2015
Algo em que todas as pessoas creem, sem exceção, é a morte! Cada uma está convencida da sua chegada. Este é um dos poucos factos sobre o qual não reina qualquer controvérsia nem ignorância.
Muito embora todos os seres humanos já contem com isso desde a infância, a maioria sempre procura afastar tal pensamento. Muitos até se enfurecem, quando se fala disso em sua presença. Outros, por sua vez, evitam cuidadosamente visitar cemitérios, desviam-se de enterros e procuram o mais depressa possível desfazer qualquer impressão, se porventura uma vez encontrem um féretro na rua.
Com isso um medo secreto de que um dia possam ser surpreendidos pela morte, repentinamente, sempre os oprime. Medo indefinido os impede de se aproximarem com pensamentos sérios desse facto inamovível.
Certamente não existe nenhum outro acontecimento que, apesar de sua inevitabilidade, seja sempre de novo posto tão de lado nos pensamentos, como a morte. Mas também certamente nenhum acontecimento existe tão importante na vida terrena, a não ser o do nascimento. Contudo, é bem notório que o ser humano queira se ocupar tão pouco exatamente com o começo e o fim de sua existência terrena, ao passo que a todos os outros acontecimentos, mesmo os de importância totalmente secundária, queira emprestar significação profunda.
Investiga e perscruta sobre todos os episódios intermediários com mais afinco do que aquilo que lhe possa dar esclarecimentos de tudo: o começo e o fim de sua peregrinação terrena. Morte e nascimento se acham assim tão estreitamente ligados, porque um é consequência do outro.
[…]
O processo da morte, propriamente, nada mais é do que o nascimento para o mundo da matéria fina. Semelhantemente ao processo do nascimento para o mundo da matéria grosseira. Durante algum tempo depois do desenlace, o corpo de matéria fina permanece ligado ao corpo de matéria grosseira, como por um cordão umbilical, e que é tanto mais frouxo quanto mais elevado o assim nascido para o mundo de matéria fina já tiver desenvolvido sua alma na existência terrena, em direção ao mundo de matéria fina.
Quanto mais, por sua vontade, ele se acorrentou à Terra, portanto à matéria grosseira, e assim nada quis saber da continuação da vida no mundo da matéria fina, tanto mais firme, por conseguinte, devido à sua própria vontade, será agora esse cordão que o liga ao corpo de matéria grosseira e com isso também ao seu corpo de matéria fina, do qual ele necessita como vestuário do espirito no mundo da matéria fina.
Mas quanto mais espesso for o seu corpo de matéria fina, tanto mais pesado será ele segundo as leis vigentes, e tanto mais escuro terá que parecer também. Em virtude dessa grande semelhança e achegado parentesco com tudo o que é da matéria grosseira, muito difícil ser-lhe-á também se separar do corpo de matéria grosseira, acontecendo, pois, que tal pessoa terá também que sentir ainda as ultimas dores corpóreas da matéria grosseira, bem como toda a desintegração durante a decomposição. Durante a cremação tampouco fica insensível.
Por fim, depois da separação desse cordão de ligação, desce no mundo de matéria fina até o ponto em que o seu ambiente tem idêntica densidade e peso. lá encontra então, na mesma gravidade, de igual modo, somente os de índole idêntica. É explicável que ali seja pior do que no corpo de matéria grosseira na Terra, porque no mundo de matéria fina todos os sentimentos intuitivos são vividos de modo total e sem entraves.
Diferente é com os seres humanos que já em sua vida terrena haviam iniciado a ascensão para tudo quanto é mais nobre. A separação também é muito mais fácil, porque esses trazem vivamente em si a convicção do passo para o mundo da matéria fina. Tanto o corpo de matéria fina como o cordão ligador não são densos, e essa diferença, em suas mútuas estranhezas com o corpo de matéria grosseira, deixa efetuar-se mui rapidamente também o desenlace, de modo que o corpo de matéria fina, durante toda a chamada agonia ou últimas contrações musculares do corpo de matéria grosseira, já há muito se encontra ao lado deste, se aliás se possa falar de agonia num passamento normal de tais pessoas. O estado frouxo, pouco denso, do cordão de ligação, não permite que o ser humano de matéria fina, que se encontra ao lado, sofra a mínima dor, porque esse cordão ténue não pode, em seu estado pouco denso, constituir qualquer transmissor de dor da matéria grosseira à matéria fina.
Esse cordão, em consequência de sua maior delgadeza, rompe também a ligação de modo mais rápido, de maneira que o corpo de matéria fina se liberta totalmente num prazo muito mais curto, ascendendo então para aquela região constituída da idêntica espécie, mais fina e mais leve. Lá, ele também somente poderá encontrar os de índole idêntica, recebendo paz e felicidade na melhor e mais elevada vida intuitiva. Tal corpo de matéria fina, leve e menos denso, mostrar-se-á naturalmente também mais luminoso e mais claro, até atingir por fim tal sutilidade, que o espiritual nele existente comece a irromper de modo fulgurante, antes de entrar no espiritual de modo totalmente irradiante.
Sejam, porém, advertidas as pessoas que rodeiam um moribundo, para que não irrompam em altas lamentações. Pela dor da separação exageradamente manifestada pode a criatura humana de matéria fina, que se acha em vias de desligamento ou talvez já se encontre de lado, ser atingida, isto é ouvir ou sentir aquilo. Despertando nela desse modo a compaixão ou o desejo de dizer ainda palavras de consolo, esse ensejo ligá-la-á de novo, mais fortemente, com a finalidade de se manifestar de modo compreensível aos que se lamentam cheios de dor.
Apenas utilizando-se do cérebro poderia fazer-se entender terrenamente. O anseio, porém, acarreta, isto é, condiciona a ligação íntima com o corpo de matéria grosseira, resultando por isso, como consequência, que não somente um corpo de matéria fina que ainda se acha em vias de desligamento se una de novo, mais estreitamente, ao corpo de matéria grosseira, mas que também uma criatura humana de matéria fina que já se encontra desligada e ao lado, seja mais uma vez atraída de volta ao corpo de matéria grosseira. O resultado final é o retorno a todas as dores, das quais já estava liberta.
O novo desenlace se torna então bem mais difícil, podendo mesmo durar alguns dias. Ocorre então a assim chamada agonia prolongada, que se torna realmente dolorosa e difícil para quem queira se desligar. Culpados são, portanto, todos quantos, com suas lamentações egoísticas, fizeram-na retroceder do seu desenvolvimento natural.
Devido a essa interrupção do curso normal, deu-se uma nova ligação forçada, mesmo que seja apenas através da fraca tentativa de uma concentração para se fazer entender. E não é tão fácil dissolver novamente essa ligação antinatural, para aquele que nisso seja ainda totalmente inexperiente. Auxílios aí não lhe podem ser dados, visto que ele próprio quis a nova ligação.
Essa ligação pode-se estabelecer facilmente enquanto o corpo de matéria grosseira ainda não esfriou de todo e o cordão de ligação exista, o qual muitas vezes somente se rompe após muitas semanas. Portanto, um martírio desnecessário para quem se translada, uma falta de consideração e crueldade dos que se encontram em redor.
Por isso, num recinto de morte, deve imperar absoluta calma, uma serenidade condigna, correspondente à hora importante! Pessoas incapazes de se dominarem deviam ser afastadas à força, mesmo que sejam mais próximos.
Abdruschin
Excerto da Dissertação 30 “A morte” da obra “Na Luz da Verdade - Mensagem do Graal”, volume II