A luta na natureza
Novembro 01, 2015
Tolos, vós que sempre de novo perguntais se é certa a luta na Criação, vós que a considerais apenas como crueldade; não sabeis que com isso vos designais como fracalhões, como nocivos para qualquer possibilidade de ascensão atual?
Despertai finalmente dessa moleza inaudita, que só deixa afundar lentamente o corpo e o espírito, jamais, porém, elevarem-se!
Olhai em redor de vós, vendo, reconhecendo, e tereis que abençoar a grande força impulsionadora que impele para a luta e, com isso, para a defesa, a cautela, a vigilância e a vida!
Ela protege a criatura do envolvimento pela indolência mortífera!
Acaso poderá um artista atingir um ponto culminante e mantê-lo, se não se exercitar constantemente, lutando para tanto? Não importa com o que se ocupar, quão fortes as capacitações que possua. A voz de um cantor logo se enfraqueceria, perdendo sua firmeza, se não puder obrigar-se a exercitar e aprender sempre de novo.
Um braço só se pode robustecer quando se exercita continuamente. Negligenciando nisso, terá que enfraquecer. E assim também cada corpo, cada espírito! Voluntariamente, porém, pessoa alguma se deixa levar a isso. Alguma obrigação deve prevalecer!
Se queres ser sadio, então cuida de teu corpo e de teu espírito. Quer dizer, mantém-nos em rigorosa atividade!
Aquilo que o ser humano hoje e desde sempre tem na conta de “cuidar” não é o certo. Ou entende com “cuidar” um doce ócio, no qual, por si só, já se encontra o que é enfraquecedor, entorpecedor, ou pratica o “cuidar” apenas de modo unilateral, como em cada esporte, isto é, o cuidar torna-se “esporte”, excesso unilateral e com isso transforma-se em abuso leviano, ambicioso, indigno para uma humanidade séria.
Verdadeira humanidade deve, pois, ter diante dos olhos o alvo máximo, que não se pode alcançar com salto em altura, natação, corridas, equitação e dirigir insensatamente. A humanidade e a Criação inteira não lucram coisa alguma com semelhantes façanhas individuais, para as quais tantas pessoas sacrificam, mui frequentemente, a maior parte de seus pensamentos, de seu tempo e de sua vida terrena!
Que tais excrescências pudessem se formar, mostra como é falso o caminho que a humanidade segue e como também tem desviado essa grande força impulsionadora na Criação só para trilhas erradas, malbaratando-a assim em brincadeiras fúteis, senão até em prejuízo, obstruindo o progresso sadio para o qual todos os meios se encontram na Criação.
Em sua presunção humana torcem de tal modo o curso das fortes correntes do espírito que devem beneficiar o impulso ascendente, que em lugar do benefício desejado, surgem estagnações que atuam como obstáculos, os quais, retroativamente, aumentam o impulso para a luta e, por fim, rebentando, arrastam tudo consigo para as profundezas.
É com isso que o ser humano, hoje, se ocupa predominantemente em suas vazias brincadeiras e fúteis ambições aparentemente científicas. Como perturbador em toda a harmonia da Criação!
Já há muito teria caído no sono indolente da ociosidade, ao qual deve seguir a podridão, se não existisse ainda na Criação, felizmente, o impulso para a luta, que o obriga, mesmo assim, a se mexer! Do contrário já há muito tempo teria chegado à arrogância de que Deus deve cuidar dele através de Sua Criação, como nos sonhos do país da utopia. E se para tanto expressa seu agradecimento numa oração vazia, seu Deus então está altamente recompensado, pois existem muitos que nem Lhe agradecem por isso!
Assim é o ser humano, e de facto nada diferente.
Ele fala de crueldade na natureza! Não lhe ocorre a ideia, antes de tudo, de se examinar uma vez a si próprio. Só quer sempre criticar.
Mesmo na luta entre os animais só existe bênçãos, nenhuma crueldade.
Basta que se observe bem qualquer animal. Tomemos por exemplo o cão. Quanto mais atenciosamente for tratado tal cão, tanto mais comodista se tornará, mais preguiçoso. Se um cão vive na sala de trabalho de seu dono e este atenta, cuidadosamente, para que o animal jamais seja pisado, ou apenas empurrado, mesmo que se deite em lugares onde constantemente esteja em perigo de poder ser machucado sem intenção, como junto à porta etc., isso redunda apenas em prejuízo do animal.
Em bem pouco tempo o cão perderá sua própria vigilância. Pessoas de “bom coração” dizem, atenuando “afetivamente”, talvez até comovidas, que com isso ele mostra uma “confiança” indizível! Sabe que ninguém o machucará! Na realidade, porém, nada mais é do que uma grave diminuição da capacidade de “vigilância”, um acentuado retrocesso da atividade anímica.
Se, no entanto, um animal tem de estar em constante vigilância e em prontidão de defesa, ele não somente se torna e permanece animicamente alerta, mas progredirá continuamente em inteligência, lucrando de toda a maneira. Permanecerá vivo em todos os sentidos. E isso é progresso! Assim se dá em relação a cada criatura! Do contrário sucumbe, pois também o corpo enfraquece nesse caso pouco a pouco, tornando-se mais facilmente acessível às doenças, não tendo mais capacidade alguma para resistir.
Que o ser humano também aqui mantenha e exerça em vários sentidos uma disposição totalmente errada em relação ao animal, não surpreenderá um observador rigoroso, uma vez que o ser humano, sim, tem se sintonizado em tudo, mesmo em relação a si próprio e em relação a toda a Criação, de modo totalmente errado, causando espiritualmente apenas prejuízos em toda a parte, ao invés de trazer vantagens.
Se hoje não existisse mais na Criação o impulso para a luta, a que tantos indolentes denominam como cruel, há muito tampo a matéria já se encontraria em apodrecimento e em decomposição. Atua ainda como algo conservador, de modo anímico e físico, jamais como algo destruidor, conforme superficialmente apenas aparenta. De outra maneira não haveria nada mais que conservasse essa inerte matéria grosseira em movimento e, com isso, saneada e vigorosa, depois que, o ser humano torceu tão ignominiosamente, devido à sua perdição, o efeito refrescante a isso realmente destinado, da força espiritual que tudo perpassa, de modo que ela não pode atuar assim como realmente devia!
Se o ser humano não houvesse malogrado tanto em sua destinação, muita coisa, tudo mesmo, se apresentaria hoje de modo diferente! Inclusive a assim chamada “luta” não se encontraria naquela forma em que se apresenta agora.
O impulso para a luta teria enobrecido, espiritualizado, pela vontade ascendente das criaturas humanas. O efeito, primitivamente bruto, em vez de aumentar como se dá agora, ter-se-ia com o tempo modificado, devido à influência espiritual correta, para um impulso comum e alegre em benefício mútuo, que requer a mesma intensidade de energia que a mais violenta luta. Só com a diferença de que da luta sobrevém cansaço; do benefício, porém, pelo efeito retroativo, maior intensificação ainda.
Por fim ter-se-ia estabelecido através disso também na cópia da Criação, onde a vontade espiritual do ser humano constitui a influência mais forte, o estado paradisíaco da verdadeira Criação, para todas as criaturas, onde não será mais necessária luta alguma e qualquer aparente crueldade! O estado paradisíaco, porém, não é acaso ociosidade, pelo contrário, equivale à mais enérgica atividade, à vida real, pessoal e plenamente consciente!
Que isso não tivesse podido acontecer, é culpa do espirito humano! Volto repetidamente ao incisivo pecado original, que descrevo minuciosamente na dissertação “Era uma vez…”
Só o total falhar do espirito humano na Criação, com o emprego abusivo da força espiritual entregue a ele, através dos desvios para baixo, em vez de em direção às alturas luminosas, conduziu às excrescências erradas de hoje!
Até da faculdade de reconhecer o erro o ser humano já se descuidou, perdeu-a. Portanto, eu só pregaria a ouvidos surdos, se quisesse falar mais ainda a tal respeito. Quem quiser “ouvir” realmente e puder procurar com sinceridade, encontrará na minha Mensagem tudo quanto precisa! Por toda a parte constam esclarecimentos a propósito do grande falhar, que acarretou tão indizível desgraça em tão múltipla configuração.
Quem todavia for surdo espiritualmente, como tantos, tem pois apenas o riso estúpido da incompreensão, que deve aparentar saber, mas denuncia, na realidade, apenas leviana superficialidade, equivalente à máxima estreiteza mental. Quem hoje ainda se impressiona de algum modo com o sorriso idiota dos que são espiritualmente restritos, nada vale. A esse respeito cabe o dito de Cristo: “Deixai que os mortos enterrem seus mortos!” Pois quem é espiritualmente surdo e cego, equivale a morto espiritualmente!
O espírito humano podia, com a sua faculdade, transformar o mundo terrestre num Paraíso, como cópia da Criação! Não o fez e por isso vê agora o mundo diante de si assim conforme o deformou por sua influência errada. Nisso se encontra tudo! Por conseguinte, não insulteis por falsa moleza um fenómeno tão importante como a luta na natureza, que necessariamente ainda equilibra um pouco o que o ser humano negligenciou! Não ouseis ainda dar o nome de “amor” à vossa moleza doce-abafadiça, amor no qual a criatura humana procura de tão bom grado enfileirar as suas fraquezas! A falsidade e a hipocrisia terão de se vingar amargamente!
Por isso ai de ti, ó criatura humana, obra corroída de tua arrogância! Caricatura daquilo que deveria ser!
Contemplai com calma o que costumais chamar de natureza: montanhas, lagos, bosques, prados! Em todas as estações do ano. Os olhos podem saciar-se com a beleza de tudo aquilo que contemplam. E então refleti: o que tanto vos alegra e vos recreia são os frutos de uma atuar de tudo quanto é enteal, que se encontra na Criação abaixo do espiritual, cuja força vos foi outorgada!
Depois procurai os frutos de vosso atuar, vós que sois espirituais e que teríeis de efetuar algo mais elevado do que o enteal que vos antecede.
Que vedes aí? Apenas uma imitação sem vida de tudo aquilo que o enteal já conseguiu, mas nenhum desenvolvimento progressivo em direção à altura ideal no que é vivo e, com isso, na Criação! Com instintos criadores simplesmente atrofiados procura a humanidade imitar formas sem vida, enquanto que, de espírito livre e consciente, com o olhar voltado para o Divinal, seria capaz de formar algo bem diferente, muito mais grandioso!
Da grandeza, que só provém do espírito livre, os seres humanos se privaram criminosamente, e por isso, além de imitações pueris, conseguem somente fazer ainda… máquinas, construções, técnica. Tudo, como eles próprios: preso à Terra, inferior, vazio e morto!
Esses são os frutos que os seres humanos agora, como sendo espirituais, podem contrapor à atuação do enteal. Assim cumpriram a missão espiritual na Criação posterior doada a eles para tanto!
Como querem agora subsistir na prestação de contas? Pode aí então causar espanto, que o elevado Paraíso tenha de permanecer fechado para as criaturas humanas com o pendor pelo que é inferior? Deve ainda causar surpresa, se agora, no fim, o enteal destrói de modo retroativo a obra tão erradamente conduzida pelo espírito humano?
Quando tudo vier a desmoronar sobre vós, em consequência de vossa incapacidade notória, então cobri vosso rosto, reconhecei envergonhados a imensa culpa com que voas sobrecarregastes! Não tenteis, novamente, por causa disso, acusar vosso Criador ou chamá-Lo de cruel, de injusto!
Tu, porém, ó pesquisador, examina-te com sinceridade e impiedosamente, e então procura sintonizar todo o teu pensar e intuir, sim, todo o teu ser, de modo novo sobre base espiritual, a qual não mais vacilará como aquela base até agora intelectiva e por isso muito restrita!
Abdruschin
Dissertação 62 “A luta na natureza” da obra “Na Luz da Verdade - Mensagem do Graal”, volume II