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Mensagem do Graal

Em cada povo, em cada ser humano, tem de existir, primeiro, a base para a receção dos elevados reconhecimentos de Deus, que se encontram na doutrina de Cristo

Mensagem do Graal

Em cada povo, em cada ser humano, tem de existir, primeiro, a base para a receção dos elevados reconhecimentos de Deus, que se encontram na doutrina de Cristo

As regiões das trevas e a condenação

Novembro 03, 2015

Quando se veem quadros que devam reproduzir a vida no assim chamado inferno, passa-se adiante encolhendo os ombros com um sorriso meio irónico, meio de compaixão, e com o pensamento de que só mesmo uma fantasia doentia ou uma crença cegamente fanática poderia conceber cenas de tal teor. Raramente haverá alguém que procure nisso algum grão mínimo de verdade. Contudo, nem mesmo a fantasia mais lúgubre conseguiria esboçar um quadro que sequer se aproxime da expressão dos tormentos da vida nas regiões trevosas.

Pobres cegos que supõem poder passar por cima de tudo isso levianamente, com um encolher de ombros escarnecedor! O momento virá em que a leviandade se vingará amargamente com a apresentação abaladora da verdade. Aí não adiantará qualquer oposição, nenhum afastamento; serão arrastados para o redemoinho que os aguarda, se não se desfizerem em tempo dessa convicção de ignorância, que sempre marca apenas o vazio e a estreiteza mental de semelhantes criaturas humanas.

Mal ocorre o desprendimento do corpo de matéria fina do corpo de matéria grosseira, (*) já deparam com a primeira grande surpresa no vivenciar de que com isso a existência consciente e a vida ainda não estão terminadas. A primeira consequência é a perplexidade, à qual se segue temor inconcebível, que se transforma muitas vezes em resignação bronca ou em angustiosíssimo desespero! É inútil opor-se então, inútil todo o lamentar, inútil, porém, também o pedir; pois, terão que colher o que semearam na vida terrena.

Tendo zombado da Palavra que lhes fora trazida de Deus, apontando para a vida após a morte terrena e a responsabilidade a isso ligada de cada pensar intensivo e atuar, então o mínimo que os aguarda é aquilo que queriam: profunda escuridão! Seus olhos, ouvidos e bocas de matéria fina se acham fechados pela própria vontade. Estão surdos, cegos e mudos em seu novo ambiente.

Isso é o que de mais vantajoso lhes pode suceder. Um guia ou auxiliador do além não se lhes pode tornar compreensível, porque eles próprios se mantêm fechados a isso. Uma triste situação, à qual apenas o lento amadurecer interior da respetiva pessoa, o que se dá pelo desespero crescente, pode trazer uma sucessiva modificação. Com o crescente anseio pela Luz, que sobe qual grito ininterrupto por socorro de tais almas oprimidas e martirizadas, finalmente, pouco a pouco, tornar-se-á mais claro à volta dela, até aprender a ver também outras que, igualmente a elas necessitam de auxílio.

Tem então a intenção de socorrer aqueles que ainda aguardam nas trevas mais profundas, para que também se possa tornar mais claro o ambiente deles; assim ela se robustece cada vez mais no desempenho dessa tentativa de auxiliar, através do indispensável esforço para isso, até que algum outro já mais adiantado possa chegar até ela a fim de também ajudá-la no rumo de regiões mais luminosas.

Assim encontram-se acocorados tristonhamente, uma vez que seus corpos de matéria fina também estão demasiadamente enfraquecidos para andar, devido a falta de vontade. Continua, pois, um penoso e inseguro rastejar no chão, caso chegue a algum movimento.

Outros, por sua vez, andam a esmo, às apalpadelas nessas trevas, tropeçam, caem, levantam-se sempre de novo, para logo bater aqui e acolá, com o que não tardam ferimentos doloridos, pois visto que sempre uma alma humana somente devido à espécie de sua própria escuridão, que anda de mãos dadas com a maior ou menor densidade, a qual por sua vez acarreta um peso correspondente, afunda para aquela região que corresponde exatamente ao seu peso fino-material, portanto de idêntica espécie da matéria fina; assim seu novo ambiente se torna para ela do mesmo modo palpável, sensível e impenetrável, como acontece a um corpo grosso-material em ambiente de matéria grosseira. Por isso cada batida, cada queda e cada ferimento ser-lhe-á tão doloroso, como aquele sentido pelo seu corpo de matéria grosseira durante a existência terrena, na Terra de matéria grosseira.

Assim é em cada região, seja qual for a profundidade ou a altura a que pertença. Idêntica materialidade, idêntico sentir, idêntica impenetrabilidade recíproca. Contudo, cada região superior ou cada espécie diferente de matéria pode atravessar sem impedimento as espécies de matérias mais baixas e mais densas, assim como tudo que é da matéria fina atravessa a matéria grosseira, que é de outra espécie.

Diferentemente, no entanto, é com aquelas almas que, além de tudo o mais, têm de remir algum erro cometido. O facto em si é uma coisa à parte. Pode ser remido no momento em que o autor consegue pleno e sincero perdão da parte atingida.

Mas aquilo que mais pesadamente amarra uma alma humana é o impulso ou o pendor, que forma a força motora para uma ou mais ações. Esse pendor perdura na alma humana mesmo depois do trespasse, depois do seu desligamento do corpo de matéria grosseira. Chegará até a evidenciar-se ainda mais forte no corpo de matéria fina, tão logo caia a restrição de tudo quanto seja de matéria grosseira, visto que então os sentimentos intuitivos atuam muito mais vivos e mais livres.

Tal pendor por sua vez se torna também decisivo para a densidade, isto é, o peso do corpo de matéria fina. Consequência disso é que o corpo de matéria fina, depois da libertação do corpo de matéria grosseira, afunda logo para aquela região que corresponde exatamente ao seu peso e por conseguinte à idêntica densidade. Por essa razão encontrará ali também todos aqueles que se entregam ao mesmo pendor. E pelas irradiações desses o seu será ainda nutrido, aumentado, e então ele se entregará desenfreadamente à prática desse pendor. Da mesma forma, evidentemente, também os outros que ali se encontram junto com ele.

Não é difícil compreender que semelhantes excessos desenfreados devam constituir um suplício para os que estão em contato com ele. Como isso, porém, em tais regiões é sempre coisa recíproca, cada qual terá que sofrer amargamente com os outros tudo aquilo que por sua vez procura causar constantemente aos outros. Assim a vida ali se torna um inferno, até que uma tal alma humana, pouco a pouco, chegue a fatigar-se, sentindo asco disso. Então finalmente, após longa duração, despertará gradualmente o anseio de sair de semelhante espécie.

O anseio e o asco constituem o começo de uma melhoria. Tornar-se-ão em grito por socorro, reforçando-se por fim até numa prece.

Somente depois é que lhe poderá ser estendida a mão para a escalada, o que muitas vezes leva decénios e séculos, às vezes também mais tempo ainda. O pendor numa alma humana é, portanto, o que amarra de modo mais forte.

Disso se depreende que um ato irrefletido muito mais facilmente e muito mais depressa será remido, do que um pendor que se encontra numa pessoa, não importando se este se haja ou não transformado em ação!

Uma pessoa que traz em si um pendor pouco limpo, sem contudo deixar que se torne ação, porque as condições terrenas lhe são favoráveis, terá por isso que expiar mais pesadamente do que uma pessoa que cometer uma ou mais faltas irrefletidamente, sem ter tido aí uma má intenção. O ato irrefletido pode ser perdoado imediatamente a essa última sem desenvolver um carma ruim; o pendor, porém, apenas quando for radicalmente extinto na criatura humana. E desse existem muitas espécies. Seja, pois, a cobiça e a avareza a ela aparentada, seja o sensualismo imundo, o impulso para o roubo ou o assassínio, para atear fogo ou também apenas para o logro e para desleixos levianos, não importa, um tal pendor sempre fará com que a respetiva pessoa afunde ou seja atraída até lá onde se encontram seus iguais.

Não adianta reproduzir quadros vivos disso. São frequentemente de tamanho horror, que um espírito humano ainda aqui na Terra custará a crer em tais realidades, sem vê-las. E mesmo assim ainda julgaria tratar-se apenas de configurações de fantasias provocadas por uma febre altíssima. Bastará, por conseguinte, que sinta receio moral de tudo isso, receio que o liberta dos liames de tudo quanto é baixo, para que mais nenhum impedimento se encontre no caminho de ascensão em direção à Luz.

Assim são as regiões sombrias, efeitos do princípio que Lúcifer procura introduzir. O eterno circular da Criação prossegue e chega ao ponto em que começa a decomposição, em que toda a matéria perde a forma, a fim de desintegrar-se em semente primordial e, com isso, no desenrolar progressivo, trazer novas misturas, novas formas com energia renovada e solo virgem. O que até então não pôde se desligar das matérias grosseira e fina para ultrapassar os limites mais elevados, mais finos e mais leves, deixando atrás tudo quanto é material, de modo a penetrar no espirito-enteal, será inexoravelmente arrastado à decomposição, com o que também sua forma e o que é pessoal nele será destruído. Será essa então a condenação eterna, o extinguir de tudo quanto há de pessoal consciente.

 

(*) Dissertação: “A Morte”

Abdruschin

                        

Dissertação 36 “As regiões das trevas e a condenação” da obra “Na Luz da Verdade - Mensagem do Graal”, volume II

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