O Santo Graal
Novembro 03, 2015
Inúmeras são as interpretações das composições poéticas que existem sobre o Santo Graal. Os mais sinceros eruditos e pesquisadores se ocuparam com esse mistério. Muito disso tem elevado valor ético, porém, tudo traz em si o grande erro de apenas mostrar uma construção que parte do plano terreno para cima, ao passo que falta o principal, o facho de luz de cima para baixo, único capaz de vivificar e iluminar.
Tudo quanto se esforça de baixo para cima tem que se deter no limiar da matéria, mesmo que lhe haja sido outorgado o que de mais elevado possa obter. Na maioria dos casos, porém, mesmo com as mais favoráveis condições preliminares, mal pode ser feita a metade desse caminho. Quão longo, no entanto, ainda fica o caminho para o verdadeiro reconhecimento do Santo Graal!
Esse sentimento intuitivo da inacessibilidade se manifesta, por fim, nos pesquisadores. O resultado disso é que procuram conceber o Graal como sendo uma designação puramente simbólica de um conceito, a fim de lhe dar assim aquela altitude, cuja necessidade para tal designação sentem intuitivamente com acerto. Com isso, porém, na realidade, vão para trás, não para a frente. Para baixo, ao invés de para cima. Desviam-se do caminho certo já contido em parte nas composições poéticas.
Somente estas deixam pressentir a verdade. Mas apenas pressentir, porque as elevadas inspirações e as imagens visionárias dos poetas na transmissão foram demasiado materializadas pela ativa participação do raciocínio. Deram à retransmissão daquilo que foi recebido espiritualmente uma imagem do ambiente terrenal contemporâneo, a fim de tornar o sentido de suas obras poéticas mais compreensível às criaturas humanas, o que apesar disso não conseguiram, porque eles próprios não puderam se aproximar do núcleo propriamente dito da Verdade.
Assim foi dada de antemão uma base incerta para as ulteriores pesquisas e buscas; colocada com isso uma restrita limitação a cada êxito. Não é, portanto, de pasmar, que por fim somente se podia pensar em mero simbolismo, transferindo a libertação pelo Graal para o íntimo de cada ser humano.
As interpretações existentes não são destituídas de grande valor ético, mas não podem ter nenhuma pretensão de constituírem um esclarecimento das obras poéticas, e muito menos se aproximarem da verdade do Santo Graal.
Também não se entende por Santo Graal o cálice de que o Filho de Deus se serviu no fim de sua missão terrena, quando da última ceia junto com os discípulos, e no qual foi recolhido seu sangue na cruz. Esse cálice é uma recordação sagrada da sublime obra salvadora do Filho de Deus, mas não é o Santo Graal, para cujo louvor os poetas das lendas foram agraciados. Essas obras poéticas foram erradamente interpretadas pela humanidade.
Deviam ser promessas provenientes de elevadíssimas alturas, cujas realizações as criaturas humanas têm de esperar! Tivessem sido interpretadas como tais, então certamente, já há muito, outro caminho teria sido também encontrado, que poderia conduzir as pesquisas ainda um pouco mais adiante do que até agora. Mas assim teve que se apresentar finalmente um ponto morto em todas as interpretações, porque jamais se poderia alcançar uma solução total, sem lacunas, uma vez que o ponto de partida de cada investigação se encontrava de antemão em base errada devido à conceção errónea de até então.
Jamais conseguirá um espírito humano, mesmo que tenha alcançado a sua maior perfeição e imortalidade, ver-se na presença do Santo Graal! Por tal motivo, também jamais pode descer de lá à matéria, à Terra, uma notícia satisfatória sobre isso, a não ser através de um mensageiro que tenha sido mandado de lá. Para o espírito humano, portanto, o Santo Graal terá de permanecer sempre e eternamente um mistério.
O ser humano que continue naquilo que possa compreender espiritualmente e procure antes de mais nada realizar tudo aquilo que estiver em suas forças, até à mais nobre florescência. Lamentavelmente, porém, em seus anseios sempre estende de bom grado a mão para muito além, sem que desenvolva sua real capacidade, com o que comete assim uma negligência, que não o deixa alcançar nem sequer aquilo do que seria capaz, enquanto que o desejado de qualquer forma jamais poderá alcançar. Priva-se com isso do que há de mais belo e mais elevado na sua verdadeira existência, ocasionando apenas uma completa falha no cumprimento de sua finalidade de existir.
Parsival é uma grande promessa. As falhas e erros que foram introduzidos pelos poetas das lendas, devido ao seu pensar demasiadamente terreno, alteram a verdadeira essência dessa figura. Parsival é uno com o Filho do Homem, cuja vinda o próprio Filho de Deus anunciou.
Enviado de Deus, terá ele que passar pelas mais difíceis penúrias terrenas com uma venda diante dos olhos espirituais, externamente como ser humano entre seres humanos. Após determinado tempo, libertado então dessa venda, reconhecerá então o ponto donde partira e, consequentemente, a si próprio, vendo diante de si nitidamente também sua missão. Essa missão igualmente trará uma libertação, ligada a rigoroso Juízo, à humanidade que busca sinceramente.
Para tanto, não pode ser suposta uma pessoa qualquer, muito menos ainda se deve reconhecer nisso a possível vivência de muitos ou mesmo de todos os seres humanos, mas será um bem determinado enviado especial.
Nas leis inamovíveis de toda a Vontade Divina não é possível de maneira diversa do que cada coisa, após o percurso de desenvolvimento em sua mais alta perfeição, retorne novamente ao ponto de partida de seu ser original, nunca , porém, além deste. Assim também o espírito humano. Como semente espiritual, tem ele sua origem no espírito-enteal, para onde poderá regressar, como espírito consciente em forma enteal, após o seu percurso através da matéria, tendo alcançado a mais alta perfeição e adquirido pureza viva.
Nenhum espírito-enteal, por mais elevado, puro e radiante que seja, consegue ultrapassar o limite do Divino. O limite e a impossibilidade de ultrapassá-lo reside aqui também, como nas esferas ou planos da Criação material, simplesmente na natureza da coisa, na diferenciação da espécie.
Como supremo e mais elevado está o próprio Deus em Sua inentealidade Divina. A seguir, como o mais próximo, um pouco mais abaixo, vem o Divino-enteal. Ambos são eternos. A este se segue, então, cada vez mais para baixo, a obra da Criação em planos ou esferas descendentes cada vez mais densas, até finalmente à matéria grosseira visível aos seres humanos.
A matéria fina da Criação material é o que os seres humanos chamam de Além. Portanto, aquilo que se acha além de sua capacidade de visão terreno-material grosseira. Ambas, contudo, fazem parte da obra da Criação, não sendo eternas em sua forma, mas sujeitas a alterações que visam a renovação e a reanimação.
No ponto de saída mais alto do eterno espírito-enteal se encontra o Supremo Templo do Graal, espiritualmente visível e palpável, porque ainda é da mesma espécie espírito-enteal. Esse Supremo Templo do Graal contém um recinto amplo que, por sua vez, se acha no limite mais extremo em direção ao Divino, sendo, portanto, mais etéreo ainda do que tudo o mais do espírito-enteal. Nesse recinto se encontra, como penhor da bondade eterna de Deus-Pai e como símbolo do Seu mais puro Amor Divino, e igualmente como ponto de saída da força Divina: o Santo Graal!
É uma taça onde algo como sangue rubro borbulha e ondula ininterruptamente, sem jamais transbordar, irradiada pela mais clara Luz, é concedido somente aos mais puros de todos os espírito-enteais poderem olhar para essa Luz. E estes são os guardiões do Santo Graal! Quando se diz nas obras poéticas que os mais puros dos seres humanos são destinados a se tornarem guardiões do Graal, esse é um ponto que então o poeta agraciado transportou demasiadamente para o plano terreno. Porque não conseguiu se expressar de outra maneira.
Nenhum espírito humano pode entrar nesse recinto sagrado. Mesmo em sua maior perfeição de entealidade espiritual, depois de seu regresso do percurso através da matéria, ainda não está suficientemente eterizado para poder transpor o umbral, isto é, o limite. Mesmo no seu aperfeiçoamento máximo, ainda é demasiadamente denso para tanto.
Uma eterização maior para ele equivaleria a uma completa decomposição ou combustão, uma vez que sua espécie, já de origem, não se presta para se tornar ainda mais radiante e luminosa, isto é, ainda mais etérea. Não suportaria.
Os guardiães do Graal são eternos, espíritos primordiais, que nunca foram seres humanos, os ápices de todo o espírito-enteal. Necessitam, contudo, da força Divino-Inenteal, dependem dela, como tudo o mais depende do Divino-Inenteal, a origem de toda a força, Deus-Pai.
De tempos em tempos, então, no dia da Pomba Sagrada, aparece a Pomba por sobre o cálice, como sinal renovado do imutável Amor Divino do Pai. É a hora da união, que traz a renovação da força. Os guardiões do Graal recebem-na com humilde devoção, estando aptos depois a retransmitir essa força milagrosa recebida.
Disso depende a existência da criação inteira!
É o momento em que no Templo do Santo Graal o Amor do Criador se derrama radiantemente para um novo existir, para novo impulso criador que, descendo, se distribui pelo Universo inteiro em forma de pulsações. Um estremecer transpassa nisso todas as esferas, um tremor sagrado de alegria pressentida, de imensa felicidade. Apenas os espíritos das criaturas humanas terrenas permanecem ainda de lado, sem sentirem intuitivamente o que está acontecendo justamente para eles, quão imensa dádiva broncamente recebem, porque sua autorrestrição no raciocínio não permite mais a compreensão de tal grandeza.
É o momento de aprovisionamento de vida para a Criação inteira!
É a contínua e indispensável repetição de uma confirmação do pacto que o Criador mantém em relação à Sua obra. Se um dia tal afluxo fosse interrompido, suspenso, tudo quanto existe teria que secar aos poucos, envelhecer e se decompor. Adviria então o fim de todos os dias e só restaria o próprio Deus, conforme era no começo! Porque unicamente Ele é a Vida.
Esse fenómeno está transmitido na lenda. É até mencionado no envelhecimento dos cavaleiros do Graal, durante o tempo em que Amfortas não desvela mais o Graal, até à hora em que Parsival aparece como Rei do Graal, como tudo tem de envelhecer e perecer, se o dia da Pomba Sagrada, isto é, o “desvelar” do Graal não voltar.
O ser humano devia afastar-se da ideia de considerar o Santo Graal apenas como algo inconcebível, pois existe realmente! No entanto, é negado ao espírito humano, por sua condição, poder contemplá-lo sequer uma vez. Mas as bênçãos que dele fluem e que podem ser retransmitidas pelos guardiões do Graal e que também são retransmitidas, essas os espíritos humanos podem receber e usufruir, se se abrirem para elas.
Nesse sentido algumas interpretações não podem ser tidas em conta de totalmente erradas, contanto que não tentem incluir em suas explicações o próprio Santo Graal. São certas e no entanto também não o são.
O aparecimento da Pomba no dia determinado da Pomba Sagrada indica a periódica missão do Espírito Santo, pois essa Pomba se acha em íntima relação com ele.
Mas é algo que o espírito humano só é capaz de compreender por imagens, porque conforme a natureza da coisa, mesmo tendo o mais alto desenvolvimento, na realidade só pode pensar, saber e sentir intuitivamente até lá de onde ele próprio veio, isto é, até aquela espécie que é una com a sua mais pura condição de origem. É o eterno espírito-enteal.
Esse limite ele jamais poderá ultrapassar, nem mesmo em pensamentos. Algo diferente também nunca poderá compreender. Isso é tão evidente, lógico e simples, que cada pessoa pode acompanhar esse pensamento.
O que para além disso existir será e deverá ser, por essa razão, sempre um mistério para a humanidade!
Cada ser humano vive por isso numa ilusão errónea ao imaginar ter Deus em si, ou ele próprio ser Divino, ou poder tornar-se Divino. Tem em si espiritual, mas não Divinal. E há nisso uma diferença intransponível. Ele é uma criatura, e não uma parte do Criador, conforme tantos procuram se persuadir. O ser humano é e continua uma obra, jamais podendo se tornar mestre.
Por conseguinte, também é erróneo quando se declara que o espirito humano promana do próprio Deus-Pai e a Ele regressa. A origem do ser humano é o espirito-enteal, não o Divino-inenteal. Apenas poderá, portanto, no caso de atingir a perfeição, voltar ao espirito-enteal. Certamente falando, o espirito humano se origina do Reino de Deus e por isso também, quando se tiver tornado perfeito, poderá voltar para o Reino de Deus, não porém a Ele próprio.
Seguirão ainda mais tarde dissertações detalhadas sobre os planos isolados da Criação, que em suas espécies essenciais são totalmente diferentes.
No ápice supremo de cada um desses planos da Criação se encontra um Templo do Graal, como indispensável ponto de transição e transmissão da força.
Esse é sempre uma cópia formada na espécie essencial do respetivo plano da Criação, do verdadeiro e Supremo Templo do Graal, que se encontra no ápice de toda a Criação, e que é o ponto de partida de toda a Criação, devido às irradiações de Parsival.
Amfortas foi o sacerdote e o rei na mais baixa dessas cópias do Supremo Templo do Graal, que se encontra no ponto mais alto do plano de todos os espíritos humanos que se desenvolveram de germes espirituais, portanto, mais próximo da humanidade terrena.
Abdruschin
Dissertação 34 “O Santo Graal” da obra “Na Luz da Verdade - Mensagem do Graal”, volume II